quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Ítalo Setti
Ítalo chegou a São Bernardo aos 12 anos de idade, mais precisamente em 1879, dois anos depois do início da formação do núcleo. Como muitos jovens de sua época, particularmente imigrantes de diversas origens, ajudou na derrubada da mata nas terras em que sua família recebeu. As árvores derrubadas se transformavam em carvão, que era transportado por carroceiros até a Estação de São Bernardo (Santo André) ou até São Paulo pelo velho Caminho do Mar, mal conservado e precário, o que transformava uma viagem hoje realizada em minutos em uma jornada que costumava durar o dia todo. Ítalo foi carroceiro, transportando o produto citado até a Capital, onde era vendido. A Produção de carvão ocupou posição de destaque por muitos anos na incipiente economia que a “Villa” possuía na época. Em 1889, Ítalo jura a bandeira depois de ter requerido o título de cidadão Brasileiro naturalizado. Em 1920, torna-se vereador junto à Câmara Municipal de São Bernardo, sediada na própria Vila de São Bernardo (São Bernardo Sede) onde hoje se encontra a “Câmara de Cultura”, na Rua Marechal Deodoro entre as ruas Padre Lustoza e Doutor Fláquer. Também ocupou os cargos de procurador da prefeitura e de juiz de paz.
Em 1904, Ítalo Setti inicia as suas atividades como industrial, lançando no pacato vilarejo a idéia da industrialização, fortemente associada a idéia de progresso, fundando a fábrica de charutos “A Delícia”, que encerrou as atividades em 1912 para que o mesmo Ítalo Setti pudesse fundar a Companhia Tecelagem São Bernardo, o maior estabelecimento industrial do lugar, que já detinha a tradição na fabricação de móveis, e que agora tinha a indústria que melhor representava o ideal progressista do Brasil de então: A Indústria têxtil. Ali, Ítalo iniciou a sua obra em prol do lugar em que vivia: Foi o primeiro empresário a distribuir cestas de natal, que começaram com a distribuição de uma simples garrafa de vinho para as suas funcionárias, estudioso, era um especialista na interpretação das leis e na constituição brasileira, dando atendimento constante a população que o procurava buscando sanar dúvidas com relação a este tema. Defendia os interesses de São Bernardo mesmo estando distante da política, pois na época, apesar de a câmara estar na “Villa”, a prefeitura já estava instalada na atual Santo André (embora tudo ainda fosse um único município, o Município de São Bernardo) o que provocava demoras e falhas no atendimento aos cidadãos de São Bernardo.
Nos anos 30, seu filho Armando Setti chega ao cargo de prefeito municipal. Eram tempos difíceis, o Brasil vivia crises internas e vivia também a crise ocasionada pela quebra da bolsa de Nova Iorque. Com os conselhos do pai, Armando emprega uma gestão exemplar em São Bernardo, e diante da crise, a sua primeira medida foi baixar uma portaria reduzindo os seus próprios vencimentos. Ainda em sua administração, o trecho central da Rua Marechal Deodoro foi calçado com paralelepípedos, e esta foi a primeira rua calçada de toda a região, tendo São Bernardo recebido a melhoria antes mesmo da Rua Cel.Oliveira Lima em Santo André, que era a rua mais importante do ABC na época. O Calçamento, dizem foi conseguido por intermédio do próprio Ítalo Setti, de uma pedreira de Rio Grande da Serra que tinha dívidas com a prefeitura. O Calçamento foi uma verdadeira revolução para São Bernardo, pois o centro do lugarejo sofria com a poeira e com o trânsito de veículos que corria toda a Marechal Deodoro, único acesso da Capital para Santos até 1947.
Além desta melhoria, também fez com que São Bernardo fosse o primeiro lugar do ABC dotado de energia elétrica, benefício que conseguiu por méritos próprios junto à The São Paulo Tramway, Light and Power Co. que controlava o fornecimento de luz e o serviço de bondes na capital e em seus arredores.
Em 1896, fundou junto com compatriotas a Societá Mutuo Socorso Italiani Uniti, em 1941, doou um magnífico terreno ao Esporte Clube São Bernardo, que tinha a simpatia de Ítalo Setti por representar o nome de nossa cidade. Doou também uma área de 1300 m2 na Rua Doutor Fláquer, onde financiou e construiu o primeiro pavilhão da Escola Ítalo Setti, sob a condição de que pelo menos 15 crianças pobres recebessem instrução gratuita. Essa escola, depois de ampliada tornou-se o Colégio São José, das freiras palotinas.
Em 1942, doou o avião “João Ramalho” à Companhia Nacional de Aviação, na presença de altas autoridades, inclusive o Ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, e o jornalista Assis Chateaubriand, lembrando que a aeronave doada tinha o nome do fundador de São Bernardo.
A Antiga Igreja Matriz também recebeu muitas benfeitorias por parte de Ítalo Setti: Entre elas, peças de iluminação, adornos, e toda a pintura do altar mor e da nave central. Foi o grande precursor da autonomia político-administrativa de São Bernardo, perdida em 1938, mas recuperada em 1944.
E depois de tantos feitos, apenas uma pequena rua recebe o seu nome, enquanto três das mais importantes avenidas da cidade homenageiam: 1 - o golpe militar de 1964 (Avenida 31 de Março) 2 – Um Americano que jamais pisou em São Bernardo – Avenida Robert Kennedy e 3 – Outro cidadão norte-americano que também nunca pisou na cidade, o Presidente Kennedy, homenageado na Avenida Kennedy.
Dá pra entender?
Bibliografia consultada: PESSOTTI, Attílio – Villa de São Bernardo, Cadernos Históricos, 1977.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Os muitos campos de outrora
O Primeiro campo, ou melhor, o mais antigo que conhecemos, era utilizado pela antiga Associação Athlética São Bernardo, e ficava em um terreno de propriedade do Sr.Ítalo Setti, um dos mais ilustres cidadãos que São Bernardo do Campo já possuiu. (a vida dele é tema de outro texto). Este campo, ficava no quarteirão delimitado pela Rua Marechal Deodoro e pelas Avenidas Francisco Prestes Maia e Brigadeiro Faria Lima. O Campo foi instalado ali na época da primeira “febre” futebolística de São Bernardo, e a intenção da Associação Athlética, era comprar o terreno do proprietário, que para isso facilitou o preço em parcelas “bem camaradas”. No entanto, em
Em 1941, o clube resolve procurar o Sr.Ítalo Setti, visando a aquisição do terreno para a constituição de sua sede própria, instalada até então na Rua Marechal Deodoro, primeiramente na sobreloja do Bar Expresso, tradicional reduto de admiradores do clube, e depois em uma velha sala de cinema desativada. Simpático à idéia do clube, o Sr.Ítalo Setti doa o terreno à agremiação impondo algumas condições: O Estádio deveria chamar-se Ítalo Setti, e caso o clube se dissolvesse, o terreno voltaria para as mãos da família. Desta forma, o “Esporte” (nome carinhosamente dado ao São Bernardo) constrói ali toda a estrutura de um clube social: Estádio com arquibancadas, iluminação noturna (o S.Paulo FC veio inaugurar em partida amistosa contra o ECSB), quadras de basquete, vôlei, futsal, vestiários e demais itens. O Estádio Ítalo Setti, o mais moderno do ABC durou até os anos 60, quando a Avenida Brigadeiro Faria Lima foi construída e rasgou todo o campo, reduzindo a propriedade do clube, que sem local para jogar acabou se desligando do futebol, voltando somente no início dos anos 80. Em 1968, o clube inaugura no terreno o primeiro ginásio de São Bernardo do Campo, além de piscinas, sauna e estruturas modernas que permitiram que o Esporte se tornasse o maior clube da cidade na época. O Ginásio também beneficiou muito o basquete do clube, que sempre colecionou títulos e revelou “cracaços”.
O Terreno pertence ao clube até hoje.
O Outro campo que merece destaque, é o velho campo do Palestra. Até 1952, existia na atual Praça Lauro Gomes, um velho casarão, construído em taipa no Século XVIII, e que pertencia ao Alferes Bonilha, antigo habitante do lugar. Este casarão, de fachada simples e sóbria, teve papel fundamental para a cidade, pois sediou o núcleo colonial de São Bernardo á partir de 1877, além de ter funcionado como cadeia, grupo escolar, posto dos correios, delegacia de polícia, entre outros usos. Atrás dele, mais ou menos onde hoje está a Escola Estadual Iracema Munhoz, existia o Pasto da Prefeitura, que também servia de ponto de retorno para o bondinho que ligava S.Bernardo à Santo André. Após a fundação do Palestra de São Bernardo, em 1 de Setembro de 1935, os responsáveis pela agremiação alviverde procuraram
O Campo foi desmontado juntamente com o velho casarão. Ali nasceu a segunda praça da cidade, e a atual EE Iracema Munhoz, ambos inaugurados pelo Prefeito Lauro Gomes no IV Centenário de São Bernardo, em 1953. Com o casarão, uma grande e importante parte da memória de São Bernardo ficou esquecida, foi sepultada naquele entulho de quase dois séculos, tudo dizimado em nome do “progresso” que chegava à outrora pequena e tranqüila cidade. Sinais de novos tempos, de indústrias e da nova Via Anchieta que rasgava o território do município.
O Palestra, graças a uma atitude cordial de seu rival, mandou seus jogos no Estádio Ítalo Setti até conseguir construir um novo campo, em um terreno cedido pela prefeitura na então “Vila” Ferrazópolis, um deserto urbano que na época nem tinha o “status” de bairro, pois estava vinculado ao centro da cidade.
Lauro Gomes, com essa atitude, se tornou “persona-non-grata” entre os Palestristas, que já tinham Tereza Delta, a grande rival de Lauro Gomes como madrinha do time e do clube.
O Último campo, estava no quarteirão delimitado pelas ruas Frei Gaspar, Alferes Bonilha e pela Avenida Brigadeiro Faria Lima. Era o campo do Brasil, uma das maiores equipes de várzea de São Bernardo, destino certo de muitos jogadores que se “aposentavam” pelo Palestra e pelo Esporte. Ali, apenas um campo, sem arquibancadas era o que bastava para a realização das partidas, sempre muito disputadas, pois o cenário varzeano de São Bernardo do Campo sempre foi da melor qualidade. O Campo, foi cortado pela Avenida Brigadeiro Faria Lima, mas já tinha sido abandonado pouco antes. Em seu lugar está a Praça Brasil, homenagem ao clube que construiu ali um pedaço da história de nosso rico e esquecido futebol.
Sem campos, o futebol da cidade foi acabando, até a inauguração do estádio Humberto de Alencar Castelo Branco, o popular Baetão, pelo prefeito Geraldo Faria Rodrigues, no início dos anos 70. O Baetão, estádio esquisito e acanhado, apoiado de um lado em um grande barranco, com as suas arquibancadas em declive, e do outro com uns míseros quatro ou cinco degraus, enchia e vibrava com as partidas do Aliança Clube de Rudge Ramos, um aventureiro do futebol profissional, que em fins dos anos 70 era a mais poderosa equipe amadora do Estado de São Paulo, campeã invicta do “Desafio ao Galo”, tradicional torneio varzeano, vencedora do “Super Galo”, que reunia todas as equipes campeãs do torneio, e que depois resolveu se profissionalizar, sendo vice-campeã da segunda divisão do Campeonato Paulista em duas oportunidades. Depois, foi absorvida pelo Esporte Clube São Bernardo, que continuou repetindo os feitos da equipe azul.
Ainda nos anos 70, foi inaugurado o Estádio Costa e Silva, mais moderno e amplo, antiga aspiração dos esportistas da cidade. O Terreno pertencia a Tecelagem Elni, uma das mais modernas do Brasil, que estava instalada onde hoje está o Poupatempo. No Estádio, o Palestra enfrentou nada mais nada menos do que o Santos de Pelé, na única apresentação oficial que a equipe fez em S.Bernardo do Campo, antigo e tradicional ponto de concentração do time santista. No entanto, o estádio ficou famoso por sediar as reuniões de metalúrgicos durante as grandes greves do ABC, em fins dos anos 70 e no início dos anos 80. Na década de 80, o estádio foi ampliado, e teve o seu nome alterado para “Estádio Primeiro de Maio” em homenagem aos eventos grevistas. O Estádio permanece inacabado e sem iluminação artificial até os dias de hoje.
E em uma cidade que já teve tantos campos de futebol, hoje temos apenas dois estádios incompletos e acanhados, que não combinam com a grandeza de São Bernardo do Campo, e tampouco com a bela história do futebol de nossa cidade.