segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Baraldi: o bom senso venceu!

Populismos a parte, reproduzo a matéria veiculada no Diário do Grande ABC e parabenizo a administração de São Bernardo do Campo, que lutou pela vitória do bom senso no caso da Represa Baraldi/Estrada do Montanhão. Critico os erros, e reconheço os acertos. É assim que devemos caminhar.

A Reabertura da estrada representa a reabertura de um caminho, que mesmo com algumas variantes, já tem mais de cem anos. Representa o fim da possibilidade de isolar 220 famílias sambernardenses.

E que Santo André se atenha aos seus problemas antes de meter o bedelho nas coisas de São Bernardo do Campo.

Moradores festejam a reabertura da estrada

domingo, 25 de dezembro de 2011 7:49

Famílias do Baraldi têm caminho livre

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC



A passagem que liga as 220 famílias do bairro Baraldi até o Parque Selecta, em São Bernardo, foi reaberta na manhã de ontem. O prefeito Luiz Marinho (PT) participou da liberação da Estrada do Montanhão, localizada na divisa com Santo André e fechada desde o dia 15. A desobstrução da via foi iniciada na sexta-feira, mas não foi concluída no mesmo dia por conta dos grandes obstáculos colocados pelo Semasa, de Santo André.
A liberação da via foi festejada pelos moradores que, acompanhados do prefeito, percorreram a pé os 1.800 metros que estavam fechados. "Foi uma grande vitória. Com certeza as nossas organização e luta motivaram a reabertura", comemora a dona de casa Soraia Roseli Tolotte, 33 anos.
A rápida desobstrução surpreendeu quem vive no bairro. "Eu esperava que a gente fosse ficar isolado por uns dois meses, no mínimo. Que bom que agora vamos poder receber familiares para o Natal", desabafa a dona de casa Maria Lúcia de Souza Silva, 49.

Para o operador de fundição Isaac Mariano, 48, a retirada das barreiras representa alívio, já que sua sobrinha de 9 anos faz tratamento contra tumor no rim, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. "Depois que fechou, ficamos desesperados. O tratamento dela teve de ser interrompido."

LIMINAR
Na quinta-feira, liminar emitida pelo Tribunal de Justiça determinou que o Semasa ou a Prefeitura de Santo André executasse a abertura imediata da estrada, o que não aconteceu. Em recesso, o órgão andreense afirmou que não foi notificado oficialmente da decisão.
Para Marinho, o Semasa fugiu para não ter de realizar o serviço. "Soube de gente de lá do Semasa que, quando souberam da decisão, foram embora imediatamente para não serem atormentados." Diante da inércia do município vizinho, São Bernardo buscou na Justiça autorização para executar a liminar.
O prefeito espera que a partir de agora o debate em torno da via seja feito com "racionalidade e bom-senso". "Eu já me ofereci à Prefeitura de Santo André para que a gente assuma a manutenção em toda a estrada, inclusive no trecho que pertence a eles. Infelizmente, não tivemos retorno."
Marinho afirma que não visitou a estrada no dia do fechamento para "não fazer besteira". "A minha vontade era colocar a guarda municipal para enfrentar a Polícia Militar e impedir o bloqueio. A PM teria de me prender. Mas, infelizmente, essa foi uma ordem judicial e eu tive que aceitar com dor no coração."
IMBRÓGLIO
O processo que determina o fechamento da estrada tramita desde 1992 e tem como motivador a questão ambiental. A alegação do Ministério Público é de que o tráfego na via oferece danos ao meio ambiente. A via fica em área de manancial.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Estamos no Facebook!

Sinal dos tempos, meus amigos!
Agora o Memórias de São Bernardo tem uma página no Facebook! Pra ficar sabendo das novas postagens do blog, e sobre outras coisas de nossa história, basta acessar: http://www.facebook.com/pages/Mem%C3%B3rias-de-S%C3%A3o-Bernardo/263780090347775 e clicar em "curtir".

Você também pode fazer isso usando o aplicativo do Facebook instalado no lado direito da página.

A Memória de São Bernardo do Campo agradece! (e o autor também!)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Represa Baraldi, um risco para a natureza?

Pra começar o texto, como sempre dedicado aos que gostam de ler detalhes e pormenores, e não aos que apenas gostam das "pílulas" de informação, deixo o que Ademir Médici escreveu em 1981, na bela obra "São Bernardo: seus bairros, sua gente", da série Cadernos Históricos, que durante a administração Tito Costa publicou as maiores obras já escritas sobre os antecedentes de nossa cidade. Médici fala sobre a "Represa dos Baraldi", ou Represa Baraldi, ou, como a imprensa anda dizendo, "Bairro Baraldi" - No texto de Ademir Médici, faço alguns grifos, que comentarei posteriormente:

"Nas suas colônias perdidas da freguesia de São Bernardo, os Baraldi procuravam cascas de passariúvas, uma matéria-prima excelente para curtir couro. Num carrinho de mão, puxado por homens e animais, as cascas obtidas eram transportadas até o centro de Vila de São Bernardo, de onde, em carroças, eram conduzidas a São Paulo. Nesta época - crepúsculo do século passado - havia muito palmito nas matas do Montanhão. E muita madeira excelente para a construção de móveis, além das passariúvas, naturalmente.


Os Baraldi, descendentes dos primitivos imigrantes italianos que se estabeleceram no Montanhão no século XIX, estão espalhados pelo Grande ABC.


O Montanhão, ao tempo da chegada dos Baraldi, era uma selva cerrada, de acesso difícil e fauna das mais diversificadas.


Os Baraldi, no Montanhão, receberam quatro colônias de seis alqueires cada uma. Uma colônia para cada um dos filhos de Luiz e Catarina Baraldi, todos crianças na época. Ângelo, por exemplo, o pai dos três carvoeiros de Santo André que estão contando todas essas passagens, tinha nove anos quando chegou ao Brasil.


Nas terras recebidas, os Baraldi, além de procurarem cascas de passariúvas, plantavam e criavam animais para o sustento próprio. Tinham como vizinhos outras famílias de imigrantes italianos. Os Pessoni eram os vizinhos mais próximos. Tinha também a família de Jacob Savordelli e a família de Atílio Lui (que mantinha em sua colônia um moinho de fubá). Do lado oposto, onde hoje é o Parque do Pedroso, em Santo André, a família vizinha mais próxima dos Baraldi era a dos Pedroso, família de brasileiros que há muito tinha terras no local.


Sobre os Pedroso, um episódio que Luiz Baraldi escutou de seus pais. Os Pedroso eram donos de aproximadamente 100 alqueires de terras na região e queriam vender suas propriedades. Ofereceram suas terras aos Baraldi pelo preço de um conto de réis. Os quatro irmãos Baraldi (Guilherme, Ângelo, Antonio e José) recusaram a oferta. Principal argumento:


“- Na terra de você tem pouca passariúva”.


Sim, nas terras do Pedroso existiam poucas passariúvas. E a ótima e abundante madeira existente nas terras do Pedroso, excelente para a fabricação de móveis não chamava a atenção dos Baraldi na oportunidade. As fábricas de móveis de São Bernardo ainda não haviam sido fundadas. E quem iria se interessar por aquelas madeiras?


São memórias, recordações de netos e filhos dos Baraldi que, junto com outras famílias, desbravaram o Montanhão. Causos, como eles diziam, que ouviram de seus tios, de seus pais, de seus avós.


Os irmãos Baraldi falavam que, no início deste século, sua família deixou o Montanhão. Mudou para Ribeirão Pires, onde às margens da atual estrada Velha do Mar, a família montou uma serraria. A serraria funcionava no sítio Baraldi, onde havia também boiadas, plantações, etc. O retorno dos Baraldi ao Montanhão ocorreria em 1927, quando os atuais carvoeiros da rua Natal já eram mocinhos.


No retorno ao Montanhão, a procura de passariúva no mato já era uma atividade de há muito abandonada. Os moradores do Montanhão realizavam outras tarefas, como extrair carvão, retirar lenha e derrubar toras, toras nesta época utilizadas na fabricação de móveis.


O retorno dos Baraldi ao Montanhão coincidiu com o início das obras de abertura da represa Billings. Em 1934 as águas da represa já haviam subido bastante. E junto às colônias dos Baraldi os rios naturais já haviam sido inundados. Esta parte da Billings passou a ser chamada de represa dos Baraldi, denominação que persiste até hoje.


Francisco Baraldi diz que a estrada primitiva que ligava o Montanhão ao centro de São Bernardo ia dar na avenida Tiradentes (região da Vila Santa Terezinha), depois de passar pela pedreira que é hoje da Prefeitura e depois de passar por um tanque que era do Italo Cerchiari (atual Vila do Tanque).


Era por esta estrada que nossos antepassados conduziam os carrinhos de mão puxados por burros e transportando passariúvas. Hoje, esta estrada está desativada na sua parte mais afastada, coberta pela vegetação.


Luiz, irmão de Francisco, fala de outra estrada, aberta pela Light quando da construção da represa:


“- É a estrada do Botujuru que vai beirando a represa e que termina embaixo da ponte da Via Anchieta que liga Riacho Grande ao resto da cidade, sobre a Billings”.


Anos depois os Baraldi deixaram o Montanhão. ou pelo menos grande parte da família deixaria o Montanhão. Em 1942, a II Guerra no auge, Francisco Baraldi muda-se para Santo André, para trabalhar em sua carvoaria montada na rua Natal. Luiz, seu irmão, deixa o Montanhão quatro anos depois, para trabalhar com Francisco na carvoaria. Estão no ramo até hoje.


Mais de 100 anos depois, o Montanhão é ainda uma região praticamente desabitada, semi-selvagem, rural, quase estranha aos olhos do resto do Grande ABC. Cascas de passariúvas continuavam existindo em profusão no lugar, apesar de não serem mais colhidas para curtir couro. Pescadores percorreram as matas locais, ainda espessas em busca dos melhores pontos da represa Billings. E o Montanhão, em extensão, suplanta os territórios dos maiores bairros da região."

Fica a reflexão. A Origem do desbravamento do local está ligada ao início do Núcleo Colonial de São Bernardo, estabelecido pelo Império em 1877. De lá, os Baraldi e seus respectivos vizinhos, tais como os Pedroso, que já ocupavam a área anteriormente, exploravam lenha, carvão, e madeira para a fabricação de móveis. Em 1927, a Represa Billings inundou os rios e seus traçados naturais, que ocupavam toda a região.

Hoje, o Ministério Público de Santo André, talvez (e lamentávelmente) desligado das origens daquele lugar decide o fechamento da estrada que dá acesso ao bairro, desde São Bernardo, ficando este ligado apenas a Santo André. Esse processo, que corre desde a década de 1990 já priva os moradores de melhorias na estrada, que chegou a ficar totalmente intransitável e impedida em certos momentos.

Alegam que a estrada aberta, a Estrada do Montanhão, representa um "risco para a natureza". Que natureza? O Isolamento da região até hoje, desde os tempos dos Baraldi, permitiu que a região continuasse com extensas matas preservadas. Isso, apesar da devastação promovida pela construção do Rodoanel (não foi um "risco para a natureza" devassar toda a mata que a obra devassou? Nem assorear os mananciais que ela assoreou?). Tratam a Represa Baraldi como se fosse uma invasão, algo irreal, sendo que é basicamente um bairro de sítios muito bonito por sinal. E a ação do glorioso Ministério Público em torno das imensas invasões que despejam esgotos na represa e que destroem os mananciais? São Bernardo aguarda ansiosamente estas ações! Essas invasões são alvos de grilagem de terras, por parte de pessoas sem escrúpulos que iludem a gente simples da cidade que busca um conforto para si e para seus familiares. Que tal uma ação em torno desses grileiros que empesteiam a cidade com loteamentos clandestinos? Esses loteamentos tem uma consequência nefasta para a cidade, que ao longo dos anos precisa gastar onerosas cifras para regularizar, fazer ligações de água, luz e esgoto e providenciar serviços. Tudo isso sob pesadas multas que partem dos órgãos que deveriam FISCALIZAR, e não PUNIR.

O Baraldi precisa dessa fiscalização! O Risco ali não são os moradores, é a falta de fiscalização que permite o depósito de entulhos nas margens da estrada, e outros VERDADEIROS crimes contra as matas de nossa cidade. Não permitir a ligação de um bairro que começou a se formar nos tempos do Império com o centro da própria cidade, é uma medida que surpreende pela infantilidade, e é um atestado da falta de planejamento que assola todas as esferas da administração pública.

Solução? Simples! Não permitir a expansão do bairro, e FISCALIZAR o depósito de entulhos, a formação de novos núcleos populacionais na região, e outros crimes ambientais. Além disso, dotar a Represa Baraldi de uma pequena estação de tratamento de esgotos, e claro, de serviços básicos.

Com planejamento e fiscalização, a Estrada do Montanhão poderá continuar aberta, como sempre esteve, servindo a população do bairro, como sempre serviu.

*A Imagem é da Estrada do Montanhão. Do Diário do Grande ABC.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sem Juízo (III)

Matéria da TV ABCD. Parece que a prefeitura acordou, mas acordou tarde!

TVABCD apurou que a obra é ILEGAL e a Prefeitura de SBC embargou a obra por tempo indeterminado

Conforme matéria da TVABCD publicada na semana passada, referente a obra da Câmara Muncipal de São Bernardo, o vereador e presidente Hirouyki Minami (PSDB) respondeu a nossa reportagem na última quarta-feira (16), em alguns trechos que o problema está sendo resolvido pelo diretor geral da casa, Ricardo Pereira “Acredito que ele (diretor) segue todas as preocupações necessárias”, afirmou.

Minami destacou na mesma reportagem que haveria demolições internas, como forro, teto, e algumas paredes, mas o restante permaneceria “A estrutura é a mesma e não vai ser demolida”, disse.

Em resposta, o presidente da Câmara de São Bernardo Minami afirmou ainda que não havia analisado a questão, “Não tive tempo ainda para conversar com ele (diretor) e trocar essa idéia. Ele é o diretor-geral e está acompanhando todo o processo”, completou.

Depois de uma série de reportagens a TVABCD apurou que a obra é ilegal e em reportagem exclusiva com o Secretário de Obras da Prefeitura de SBC, José Cloves da Silva, informou que os termos 'embargado' e 'parado' são a mesma coisa.

Nesta quarta – feira (30) oficialmente a Prefeitura de São Bernardo informou que embargou a obra da reforma da Câmara por tempo indeterminado e solicitou também a apresentação de novos documentos referentes ao caso.

A TVABCD continua de olho e não vai parar de acompanhar o caso. Nesta quarta-feira (30) entrará com uma ação, requerendo a Instauração de Procedimento para Apuração de Irregularidades da reforma Câmara perante o Ministério Público da cidade para que esse caso, não caia no esquecimento e não passe desapercebido perante as autoridade e a sociedade.

Comentário: E agora? Como ficará a porção demolida do plenário? Será que vai ser restaurada de acordo com o projeto original? Eu sinceramente duvido! E o dinheiro gasto? Vai sair do bolso dos srs. vereadores de S.Bernardo do Campo que nada fizeram contra esse absurdo?

Sem Juízo (II)

Ainda sobre o mesmo tema, publico o texto que recebi do meu amigo Leandro Giudici através de seu blog, o Bernôtícias (http://bernoticias.blogspot.com) tratando da infeliz demolição do Plenário Tereza Delta. A Foto (acima) que acompanha é da construção do Paço Municipal, nos anos 60.

Duro golpe na alma Sambernardense
Leandro Giudici

São Bernardo do Campo tem assistido perplexa e pacientemente um dos maiores atentados a alma de sua cidade. A demolição do plenário da Câmara Municipal para uma desconhecida e muito mal explicada 'reforma', que visa modernizar suas instalações é entristecedora.

Se o brasileiro por sua cultura (ou falta dela) valoriza tão pouco o seu passado, o sambernardense viu ao longo das seis últimas décadas a memória do seu povo ser enterrada, varrida e moída em escombros, como agora. Um misto de desrespeito e desleixo com o povo e o coração do município que a maioria dos responsáveis por tal descalabro desconhece, por desapego ou por dar ombros as pessoas e os tesouros dessa terra.

A cidade pujante, das indústrias, dos automóveis, motriz do desenvolvimento que tanto contribui para os altos números da saúde financeira do país cresceu sem olhar para trás. Na Rua Marechal Deodoro, onde tudo começou e tudo aconteceu, poucas construções nos remetem a sua importância. Sobrou a Câmara de Cultura, a Esportes Cassettari, a velha igrejinha de Nossa Sra. da Boa Viagem e a Praça Santa Filomena, tão mal cuidada. Casarões e prédios antigos foram desaparecendo da paisagem sem explicações.

Da mesma maneira vem sendo agora, a cúpula da Câmara que compõe a bela arquitetura do Paço Municipal, que por muitas vezes ilustrou postais está virando pó, estão cuspindo e pisando em nossa bandeira.

Justificam a 'demolição' da obra - revestida por granito italiano - para realizar uma suposta 'reforma', que apenas as eleições que se avizinham podem justificar. Algo para inglês ver, sem importância alguma e que abrirá uma grande ferida na alma do seu povo. Além é claro do seu valor, que torna-se indiferente se comparado ao tamanha afronta, R$ 28 milhões.

Se algo pode ser pior, indigna a complascência das autoridades, a começar pelo prefeito Luiz Marinho (PT), seus Secretários e os 21 vereadores que assistem de maneira omissa, irresponsável e covarde o teto desabar sobre suas cabeças.

Não somente eles, imprensa, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), grupos pró-cidade e os mais influentes também se calam. Um silêncio ensurdecedor.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Sem Juízo

< A Imagem que inicia esse texto, depois de muito tempo sem novidades por aqui, foi recebida pelo Facebook, via Paulo Dias.

Estamos beirando a chegada de um novo ano: 2012. Para São Bernardo do Campo, 2012 é um ano histórico, pois completaremos 200 anos da elevação de São Bernardo a Freguesia, providência do Marquês de Alegrete, que deu um "upgrade" no status quo daquele longínquo e esquecido subúrbio rural de São Paulo. Na época, éramos um "ajuntamento" perdido no Caminho do Mar, um lugarejo que ainda pertencia à Capital, e assim permaneceu até 1890. No entanto, resumir 2012 a uma "canetada" do Marquês de Alegrete não reflete o real significado do que o ano de 1812 significou. Como alguns sabem, São Bernardo nasceu como uma fazenda do Mosteiro de São Bento, em outro local, longe do que atualmente chamamos de "Centro", ás margens do Ribeirão dos Meninos (que era Ribeirão dos Couros, e o nome foi trocado devido a uma confusão nunca desfeita) nas proximidades (acredita-se) do atual Carrefour Vergueiro. Foi em 1812 que São Bernardo começou a ter os traços mais marcantes de sua caracterização, da transmutação do espaço rural em um núcleo urbano. Foi nesse ano que se delineou o que são hoje as nossas ruas centrais, todas elas partindo da Estrada de Santos (Rua Marechal Deodoro), formando quarteirões, formando a Praça da Matriz, e com esse tímido planejamento, desenhando a identidade do atual Centro.

Em 1812, a Matriz (a antiga) estava em construção, a "capelinha", ás margens da atual Rua Marechal Deodoro fazia ás vezes de igreja provisória, e dava a proteção necessária ao viajante que, por obrigação profissional, se arriscava a viajar de S.Paulo até Santos.

O Paralelo entre essa pequena resenha e a foto do cabeçalho é simples! Desde 1812, quando começamos a traçar a nossa atual "identidade uirbanística", com ruas, edifícios e outros empreendimentos indispensáveis a "vida na cidade", assistimos, incólumes, ao progresso, e também, depois do "apogeu" do desenvolvimento dessa cidade pequena, quando iniciamos a conversão para o rótulo de "cidade grande e industrializada", a queda e a descaracterização de tudo o que marcou a identidade de nossos pais, avós, bisavós e cia. ltda.

Quando entramos na década de 1950, as transformações na vida de nossa cidade geravam certa euforia: indústria, Via Anchieta, processo de emancipação concluído, muitas perspectivas... Tudo isso fez São Bernardo iniciar um processo semelhante ao vivido pela Capital entre 1900 e 1920: a substituição dos edifícios e marcos que retratavam uma cidade pequena e pacata por marcos mais pomposos, que pudessem dar aos habitantes novos orgulhos, novas imagens para apresentar, e a cara do "progresso" que a cidade vinha atingindo.

De 1950 pra cá perdemos a velha matriz, perdemos a velha Praça da Matriz, que passou por um sem número de reformas discutíveis, perdemos o Grupo Escolar, o Campo do Palestra, o Estádio Ítalo Setti, os cinemas da Marechal Deodoro, a velha magnólia, vimos os nossos rios serem sepultados debaixo de novas ruas e avenidas... A Cidade ganhou um novo aspecto, que seria a identidade de São Bernardo do Campo diante de suas novas gerações. Dentro desse contexto, estava inserida a construção do novo Paço Municipal, do lado da antiga casa de Tereza Delta, que depois viria a ser o Grupo Escolar João Ramalho, e posteriormente, a sede da Guarda Civíl Municipal. Erguido no encontro de dois rios, era um marco imponente do papel que São Bernardo almejava: metrópole industrial pujante. Um edifício de 20 andares, em estilo moderno, conjugado ás dependências do legislativo e a uma espécie de Centro Cultural, que jamais chegou a ser erguida, e que ficaria onde hoje está o terminal de ônibus/tróleibus.

O Edifício, rapidamente se encarregou de "alargar" as fronteiras do Centro da cidade, criando o "Centro Velho" (nunca conhecido por este nome, usado apenas para traçar um paralelo com o que ocorreu na Capital) composto pela Matriz e adjacências, o real Centro da cidade, e agora, pelo "Centro Novo", os arredores do Paço Municipal, símbolo da nova cidade.

Não demorou muito para que ele se tornasse o cartão postal da cidade, jogando todo o resto pra escanteio. Além disso, sua conformação viária e urbana fez com que todas as vias centrais convergissem de e para ele. Para complementar, quem vinha de Sto.André para São Bernardo, desembocava diretamente nele, quem vinha de S.Paulo também. Dessa maneira, o centro das decisões de S.Bernardo tornou-se também um marco visual para a nossa população, que acostumou-se ao longo dos anos a contornar a Praça Samuel Sabatini olhando para a enorme praça, para os lagos, para os chafarizes e para o imponente edifício.

O Problema é, para uma cidade que foi descartando os seus símbolos no decorrer dos anos, sempre apegada a "estética do progresso", os símbolos são passageiros, cumprem seu papel, e desaparecem. Tudo isso com o pretexto inconsciente de que, em uma cidade suburbana, nada é "de primeira". Não estamos no topo da hierarquia urbanística, somos secundários, a memória aqui é rotativa, e por isso não nos apegamos a essas coisas. Não olhamos um prédio de S.Bernardo como sendo um exemplar primoroso da arquitetura, sabemos que não são, um dia cairão para dar passagem a uma nova tentativa de impôr um novo símbolo, que nos coloque ao lado das "cidades avançadas". Tendo esse processo como tônica, o próprio prédio da prefeitura foi sendo largado, abandonado, mesmo com a administração e todos os seus tentáculos ainda funcionando naquele recinto. Chegaram até mesmo a propor a transferência da administração para a Avenida Kennedy, um "novo centro", simbolizaria melhor a S.Bernardo de hoje. O Prédio atual? Poderia ser demolido! Ali construiriam um piscinão para conter as enchentes do Centro. Não foi adiante, felizmente.

Pouco tempo atrás, o legislativo ergueu um anexo ao lado das dependências da câmara, destruindo a harmonia arquitetônica do conjunto do Paço Municipal em nome do "exíguo espaço a disposição do legislativo". Agora, derrubaram o plenário Tereza Delta. Não nos comunicaram, não nos deram satisfações, apenas colocaram uma escavadeira que começou a derrubar mais uma vez um pedaço da cidade, de nossa memória, destruindo assim mais um símbolo de S.Bernardo, mesmo que seja um dos que foram construídos em nome de outras derrubadas, mas que caracterizou a memória de pelo menos duas gerações.

Alguém poderá se manifestar defendendo o argumento citado acima, ironicamente, o da "arquitetura de segunda". Rebato dizendo que, um patrimônio não é composto apenas por arquitetura, e sim por memória afetiva, visual, simbólica.

Derrubam o plenário, gastam dinheiro (uma boa soma, para uma obra desnecessária) não dão satisfação, e mais uma vez seguem colocando a memória de nossa cidade no chão, varrendo nossos ícones para debaixo do tapete.

Em que os futuros sambernardenses se apegarão? Provavelmente a idéia de sair de S.Bernardo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ítalo Setti

Entre muitos cidadãos de São Bernardo que merecem destaque, sejam naturais ou adotivos, dificilmente um nome fica acima do de Ítalo Setti. Mas afinal quem foi Ítalo Setti? Era mais um dos vários e vários imigrantes italianos que chegaram ao Núcleo Colonial de São Bernardo (estabelecido pelo Império em 1877), buscando melhores condições de vida, e muitas vezes acreditando em promessas nada verdadeiras dos agentes de imigração que trabalhavam na Itália e em outros países que enviaram seus cidadãos à América.

Ítalo chegou a São Bernardo aos 12 anos de idade, mais precisamente em 1879, dois anos depois do início da formação do núcleo. Como muitos jovens de sua época, particularmente imigrantes de diversas origens, ajudou na derrubada da mata nas terras em que sua família recebeu. As árvores derrubadas se transformavam em carvão, que era transportado por carroceiros até a Estação de São Bernardo (Santo André) ou até São Paulo pelo velho Caminho do Mar, mal conservado e precário, o que transformava uma viagem hoje realizada em minutos em uma jornada que costumava durar o dia todo. Ítalo foi carroceiro, transportando o produto citado até a Capital, onde era vendido. A Produção de carvão ocupou posição de destaque por muitos anos na incipiente economia que a “Villa” possuía na época. Em 1889, Ítalo jura a bandeira depois de ter requerido o título de cidadão Brasileiro naturalizado. Em 1920, torna-se vereador junto à Câmara Municipal de São Bernardo, sediada na própria Vila de São Bernardo (São Bernardo Sede) onde hoje se encontra a “Câmara de Cultura”, na Rua Marechal Deodoro entre as ruas Padre Lustoza e Doutor Fláquer. Também ocupou os cargos de procurador da prefeitura e de juiz de paz.

Em 1904, Ítalo Setti inicia as suas atividades como industrial, lançando no pacato vilarejo a idéia da industrialização, fortemente associada a idéia de progresso, fundando a fábrica de charutos “A Delícia”, que encerrou as atividades em 1912 para que o mesmo Ítalo Setti pudesse fundar a Companhia Tecelagem São Bernardo, o maior estabelecimento industrial do lugar, que já detinha a tradição na fabricação de móveis, e que agora tinha a indústria que melhor representava o ideal progressista do Brasil de então: A Indústria têxtil. Ali, Ítalo iniciou a sua obra em prol do lugar em que vivia: Foi o primeiro empresário a distribuir cestas de natal, que começaram com a distribuição de uma simples garrafa de vinho para as suas funcionárias, estudioso, era um especialista na interpretação das leis e na constituição brasileira, dando atendimento constante a população que o procurava buscando sanar dúvidas com relação a este tema. Defendia os interesses de São Bernardo mesmo estando distante da política, pois na época, apesar de a câmara estar na “Villa”, a prefeitura já estava instalada na atual Santo André (embora tudo ainda fosse um único município, o Município de São Bernardo) o que provocava demoras e falhas no atendimento aos cidadãos de São Bernardo.

Nos anos 30, seu filho Armando Setti chega ao cargo de prefeito municipal. Eram tempos difíceis, o Brasil vivia crises internas e vivia também a crise ocasionada pela quebra da bolsa de Nova Iorque. Com os conselhos do pai, Armando emprega uma gestão exemplar em São Bernardo, e diante da crise, a sua primeira medida foi baixar uma portaria reduzindo os seus próprios vencimentos. Ainda em sua administração, o trecho central da Rua Marechal Deodoro foi calçado com paralelepípedos, e esta foi a primeira rua calçada de toda a região, tendo São Bernardo recebido a melhoria antes mesmo da Rua Cel.Oliveira Lima em Santo André, que era a rua mais importante do ABC na época. O Calçamento, dizem foi conseguido por intermédio do próprio Ítalo Setti, de uma pedreira de Rio Grande da Serra que tinha dívidas com a prefeitura. O Calçamento foi uma verdadeira revolução para São Bernardo, pois o centro do lugarejo sofria com a poeira e com o trânsito de veículos que corria toda a Marechal Deodoro, único acesso da Capital para Santos até 1947.

Além desta melhoria, também fez com que São Bernardo fosse o primeiro lugar do ABC dotado de energia elétrica, benefício que conseguiu por méritos próprios junto à The São Paulo Tramway, Light and Power Co. que controlava o fornecimento de luz e o serviço de bondes na capital e em seus arredores.

Em 1896, fundou junto com compatriotas a Societá Mutuo Socorso Italiani Uniti, em 1941, doou um magnífico terreno ao Esporte Clube São Bernardo, que tinha a simpatia de Ítalo Setti por representar o nome de nossa cidade. Doou também uma área de 1300 m2 na Rua Doutor Fláquer, onde financiou e construiu o primeiro pavilhão da Escola Ítalo Setti, sob a condição de que pelo menos 15 crianças pobres recebessem instrução gratuita. Essa escola, depois de ampliada tornou-se o Colégio São José, das freiras palotinas.

Em 1942, doou o avião “João Ramalho” à Companhia Nacional de Aviação, na presença de altas autoridades, inclusive o Ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, e o jornalista Assis Chateaubriand, lembrando que a aeronave doada tinha o nome do fundador de São Bernardo.

A Antiga Igreja Matriz também recebeu muitas benfeitorias por parte de Ítalo Setti: Entre elas, peças de iluminação, adornos, e toda a pintura do altar mor e da nave central. Foi o grande precursor da autonomia político-administrativa de São Bernardo, perdida em 1938, mas recuperada em 1944.

E depois de tantos feitos, apenas uma pequena rua recebe o seu nome, enquanto três das mais importantes avenidas da cidade homenageiam: 1 - o golpe militar de 1964 (Avenida 31 de Março) 2 – Um Americano que jamais pisou em São Bernardo – Avenida Robert Kennedy e 3 – Outro cidadão norte-americano que também nunca pisou na cidade, o Presidente Kennedy, homenageado na Avenida Kennedy.

Dá pra entender?

Bibliografia consultada: PESSOTTI, Attílio – Villa de São Bernardo, Cadernos Históricos, 1977.