quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Brasão da discórdia

Imagem: Brasão de armas de São Bernardo do Campo



O Brasão de armas do Município de São Bernardo, foi criado em 1920, pelo célebre historiador e heraldista Affonso D´Escragnole Taunay, que criou as armas de várias cidades Paulistas, principalmente das mais relevantes em termos históricos. No Brasão, vemos representada a síntese da história do município, elementos como a Cruz de Santo André, representando a povoação de Santo André da Borda do Campo. Acima da cruz de Santo André, a cruz patriarcal de São Bernardo representa o futuro, o que S.André da Borda do Campo se tornou depois de muito tempo.



No quadro seguinte, vemos representado o “Leão dos Ramalhos”, em alusão ao fundador, João Ramalho. “Defendendo” o brasão, um Bandeirante, representando Ramalho, o “Patriarca dos Bandeirantes” e um índio, representando Tibiriçá, sobro de João Ramalho e senhor da nação dos Guaianazes, que teve um trabalho decisivo no apoio e na consolidação não só de Santo André da Borda do Campo, como na consolidação da própria capital, onde ele e seu povo lutaram bravamente ao lado dos portugueses contra nações hostis.



Além destes elementos, na parte superior do brasão, ainda temos um pequeno escudo azul, com uma flor de lis branca, representando Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem, padroeira de São Bernardo. E Na parte superior da “coroa” prateada, que representa um município, temos o elmo que distingue a família de Martim Afonso de Souza, fundador de São Vicente. Deste, partiu a ordem para oficializar a Vila de S.André da Borda do Campo em 1553.



Na base do brasão, o lema: “PAVLISTARVM TERRA MATER”, ou “Terra-Mãe dos Paulistas”, que recorda a missão inicial de Santo André da Borda do Campo, e sua importância na povoação do planalto brasileiro e paulista, terra mãe do estado e do povo de São Paulo, da interiorização, e das origens da própria capital do estado.



A Primeira lei que oficializa o Brasão, é de 20 de Dezembro de 1926, assinada pelo polêmico Saladino Cardoso Franco, e desde então, este símbolo representa a história e as tradições de São Bernardo.



Mas, em 1938, com o rebaixamento de São Bernardo da categoria de município, e com todo o território sendo renomeado para “Santo André”, o que ocorreu foi um verdadeiro descalabro: A Nova municipalidade mutilou o brasão original, e dele excluiu todos os elementos que representavam São Bernardo, associando o brasão à Santo André, e se apropriando deste.



Em 1944, São Bernardo teve a sua autonomia restaurada, e consequentemente, o brasão original retorna para o seu “proprietário”, com todos os seus elementos originais restaurados. E mesmo com a restauração de São Bernardo, Santo André, agora como município independente, continuou usando o brasão São-Bernardense mutilado propositalmente para representar a sua cidade, em uma tentativa clara de associar a sua história recente à histórica Santo André da Borda do Campo. Taunay, entendia que São Bernardo era a “herdeira” da povoação fundada por João Ramalho, e por isso criou o brasão. Santo André, nasceu por conta da estação ferroviária, como já dissemos aqui em outras oportunidades, e o seu nome apenas homenageia a vila de João Ramalho.



São Bernardo do Campo, também usava como timbre em papéis da municipalidade, um “selo” municipal, representado apenas por um escudo com a cruz de Santo André encimada pela cruz de São Bernardo, e com a listra com o lema municipal na base deste selo. Este selo aliás, pode ser encontrado no piso de mosaico português, que está na entrada da Igreja Matriz, e na própria torre da igreja, em alto relevo.



Esta discórdia em relação ao dístico das duas cidades continuou por muito tempo, até que em 1972, o Município de Santo André troca de bandeira e de brasão, adotando novos símbolos, criados por Octaviano Gaiarsa, com o brasão inspirado no selo que o Município de São Bernardo do Campo utilizava em seus documentos oficiais. Á partir deste momento, São Bernardo abandona o seu selo municipal, e Santo André desassocia os seus símbolos municipais dos de São Bernardo.



Exemplos do brasão de São Bernardo “mutilado”, que foi usado por Santo André por longos anos, podem ser vistos até mesmo na obra de Gaiarsa “A Cidade que dormiu três séculos”, e em diversas placas de inauguração, com a do próprio Paço Municipal Andreense, e da Fundação Santo André.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Cinco Encruzilhadas


Foto: Capela de Bom Jesus de Piraporinha, ou da Pedra Fria, criminosamente demolida nos anos 60 - Foto dos anos 30.

Alguém aí já ouviu falar das “Cinco Encruzilhadas”? Este, é mais um dos inúmeros nomes que se perderam com a evolução da cidade de São Bernardo do Campo, e com a criação de loteamentos por empresas imobiliárias, principalmente ao longo dos anos 50.

Em fins do Século XVIII, época das bandeiras de exploração, os Bandeirantes criam na rota entre São Bernardo e Santo Amaro, um pouso chamado de “Piraporinha”. Este nome, já é bem conhecido de todos nós, São-Bernardenses, e principalmente dos Diademenses. Alguém pode perguntar: Mas Piraporinha não fica em Diadema? Hoje sim, mas antigamente não.

Piraporinha estava em uma imensa gleba de terras que pertencia à Família Pedroso, uma das mais antigas da região, de origem portuguesa, e que estava estabelecida na região desde 1769, como alguns documentos indicam. As Terras da Família Pedroso, iam desde o atual Largo de Piraporinha até onde hoje está a Vila São José, em Diadema.

Com o desenvolvimento populacional da região, José Pedroso de Oliveira, com o auxílio da população do lugarejo, ergue a Capela de Bom Jesus da Pedra Fria, para o local, afluíam romeiros de diversas partes em épocas de festa e nos dias santos, o que levou a uma expansão do lugarejo, e a um aumento das dependências da modesta capela.

Em 1881, o mesmo Pedroso, doou as terras do entorno da capela à Cúria Metropolitana de São Paulo, o que na prática levou o lugar a uma emancipação de Piraporinha, pois se antes as terras eram particulares, agora elas eram abertas à todos que afluíam para o vilarejo. Em 1887, cria-se o núcleo de imigração de São Bernardo. Rasgam-se as “linhas coloniais”, que eram na prática estradas que serviam de base para a demarcação dos lotes rurais dos imigrantes, em sua maioria, Italianos. Desta forma, o largo onde estava a capela, transforma-se em um entroncamento, de cinco caminhos, e daí aparece o nome “Cinco Encruzilhadas”. Um destes caminhos, era justamente a Linha Jurubatuba, linha colonial, hoje representada pela Avenida Jurubatuba em Diadema, e pela Avenida Humberto de Alencar Castelo Branco, em São Bernardo.

O Entroncamento destes caminhos ao redor da capela, transforma Piraporinha em um lugarejo procurado pelo comércio estabelecido, comércio modesto, baseado em armazéns que forneciam gêneros de primeira necessidade aos imigrantes e demais habitantes, que sofriam com a precariedade dos caminhos que levavam ao núcleo central de São Bernardo, atual Centro.

Nos anos 40, com a criação do Distrito de Diadema, dentro do Município de São Bernardo do Campo (que teve a sua autonomia restaurada em 1944), a Vila Piraporinha, que era e é um dos mais antigos bairros de São Bernardo, passa a integrar o novo distrito.

Já nos anos 50, Piraporinha passa a concentrar indústrias, iniciando a segunda principal vocação do lugar, a primeira, era o comércio, que ainda nos anos 50 fazia do lugar o principal entreposto comercial do Distrito de Diadema, e um dos mais importantes do Município de São Bernardo do Campo.

Também nos anos 50, um grupo de habitantes de Vila Conceição, atual centro de Diadema, inicia um movimento liderado por Evandro Caiaffa Esquivel, e que contava com o apoio de Miguel Reale, advogado que fazia parte da comissão que tratava das emancipações no Estado de São Paulo, com o objetivo de desmembrar Diadema do Município de São Bernardo do Campo. A Justificativa era o descaso de São Bernardo para com o seu distrito. Em São Bernardo, o movimento encontrava forte oposição, e em Diadema também, pois muitos de seus habitantes acreditavam que o novo município só perderia, pois São Bernardo do Campo estava em franca expansão graças à abertura da Via Anchieta e a instalação de diversas indústrias, o que segundo estes moradores acabaria beneficiando o distrito.

Em uma eleição apertada, Diadema torna-se Município em 1959, e São Bernardo perde Piraporinha, um de seus bairros mais antigos, e uma de suas “células-mater”.

Em 29 de Julho de 1968, em um verdadeiro crime contra o patrimônio histórico do ABC, cai a histórica capela de Bom Jesus da Pedra Fria, em seu lugar, ergue-se uma grande, mas feiosa igreja, cercada pelo movimento frenético do atual Largo Bom Jesus de Piraporinha.

Portanto, injustamente, Diadema abriga hoje um dos mais antigos bairros de São Bernardo. Coisas da política.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

São Bernardo nas ondas do rádio


Foto: Estúdios da Rádio São Paulo, em 1956. Fotos das rádios do ABC neste tempo, são raras.

Você, habitante de São Bernardo do Campo, faça um teste: Ligue o seu rádio, em FM ou AM, e tente sintonizar uma rádio da cidade. (só valem as “oficiais”)
Ou melhor, busque em sua memória uma rádio oficial de nossa região, você só encontrará em 1570 AM a Rádio ABC de Santo André, pois no resto das freqüências, sintonizamos única e exclusivamente as rádios da Capital Paulista. Parece democrático? Não, lógico que não. Mas nem sempre foi assim.

Nos áureos tempos do rádio, tempos em que a televisão ainda era um artigo de luxo, cada cidade do ABC tinha a sua própria emissora: Em São Caetano, a Rádio Cacique. Em Santo André: Duas emissoras! ABC e Rádio Clube de Santo André. Mas a São Bernardo do Campo, coube o pioneirismo no rádio.

Em 1957, é inaugurada oficialmente a Rádio Independência de São Bernardo do Campo, com o prefixo ZYW-5, prefixo que antes pertencia a uma emissora da cidade Paulista de Capivari. Foi a primeira emissora de nossa região, e com ela e suas parceiras regionais, uma nova geração de renomados radialistas surge em nossa região.

Pela emissora São-Bernardense, a população podia escutar as transmissões esportivas capitaneadas por Rolando Marques (1943-1994), o maior locutor do gênero em nossa região, “A Voz do Grande ABC”. Também existiam as rádionovelas, muito populares antes da “explosão” da televisão no país. As Novelas da Rádio Independência tinham tamanha qualidade, que os criadores das histórias logo seriam cobiçados pelas grandes emissoras da Capital.

Artistas como Adoniran Barbosa, Jerry Adriani, e muitos outros, pisaram nos estúdios da Independência, e do Grande ABC, mais precisamente da Rádio Cacique de São Caetano do Sul, saiu Luiz Lombardi, a famosa voz que é um ícone dos programas de Sílvio Santos até os dias atuais.

Programas como o “Grande Teatro de Emoções”, que popularizou o gênero do “Rádio Teatro”, com peças incríveis escritas por Guido Fidélis e Oswaldo Russi, que mais tarde emprestariam os seus respectivos talentos à Rádio São Paulo. Já pela Rádio ABC de Santo André, ía ao ar aos Sábados, o “Grande Teatro Philips”, com textos de Alves Cabral e Edson Lazari. No fim dos anos 60, as telenovelas colocam fim a “era de ouro” dos “grandes teatros” e das rádionovelas.

O Jornalismo e as grandes coberturas também faziam parte da programação da emissora de São Bernardo do Campo. As Três rádios da região, se juntaram por diversas vezes nos anos 60, formando uma cadeia regional, para transmitir os carnavais das três cidades do ABC, com transmissões feitas diretamente das ruas e dos clubes, onde o povo se divertia na festa de momo.

Isso sem falar na política e na crítica mordaz, muitas vezes anonimamente assinada. Ademir Médici, transcreve para a sua coluna “memória” do Diário do Grande ABC uma delas, que bem relata a situação política de 1958. Assinada por “Cacareco”, nome de um célebre rinoceronte do Zoológico de São Paulo, que fez fama nas eleições, recebendo mais votos do que a grande maioria dos candidatos “oficiais”, o texto diz: “Diadema não pode emancipar-se, de jeito nenhum, porque... já imaginaram se a febre pega também em Rudge Ramos? Valha-me Deus. Arrepio-me só em pensar em tal coisa. Não. Vamos à luta. Um por todos e todos por mim. Vamos falar, gritar, brigar, mendigar o NÃO, pois tenho certeza que os meus cabos eleitorais são capazes, eficientes, são reconhecidos como salvadores das penúrias do povo. Diadema já é nossa, estão esclarecidos que devem ficar com São Bernardo, principalmente agora que falta apenas um ano para eleger-se novo prefeito da cidade." . E Como o próprio Médici conclui: Diadema emancipou-se, tornou-se cidade em uma manobra estranha que comentaremos em outra oportunidade, Rudge Ramos tentou iniciar um movimento semelhante, que não prosperou, e Lauro Gomes elege-se prefeito.

Mais tarde, Edson Danilo Dotto (1934-1997), um dos fundadores do Diário do Grande ABC, inicia a formação de uma cadeia regional de rádio, de propriedade do jornal, convertendo a Rádio Independência de São Bernardo em “Rádio Diário do Grande ABC”. Os potentes transmissores, localizados na altura do Km 17 da Via Anchieta (atrás da Escola Jean Piaget) passam a ser a voz do Grande ABC diante das emissoras da Capital. Mais tarde, bem mais tarde, surge a Diário do Grande ABC FM.

Em 1992, a Diário AM (ex Independência) é vendida a um grupo evangélico. E já por volta de 2001, seus transmissores foram desmontados, e a rádio foi transferida para a Capital. A Diário FM, que ficou famosa graças a transmissão de música considerada “erudita”, mas não clássica, tornou-se Scala FM, foi vendida, e recentemente retornou em outras mãos. A Rádio Clube de Santo André, virou Rádio Trianon, e também foi transferida para a Capital. E a Rádio Cacique de São Caetano, foi transferida para a Legião da Boa Vontade, e também fez as malas rumo a São Paulo. Seus transmissores foram incorporados à Rádio Eldorado AM (estão na Avenida Guido Aliberti, perto do Instituto Mauá) que antes transmitia do Alto da Serra, em São Bernardo, na Estrada Velha de Santos.

A Única que resiste, é a Rádio ABC, que está na Avenida Pereira Barreto, em Santo André. Aos “trancos e barrancos”, ela defende bravamente a mídia radiofônica de nossa região, que antes era tão rica, e agora, é tão massificada pelas rádios da Capital.

Por fim, o ABC também participou, e com louros, da “era de ouro do rádio”.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Série SBC 456 – O Que comemoramos em 20 de Agosto?

Dando início a uma série comemorativa aos 456 anos de fundação da Vila de Santo André da Borda do Campo, embrião de São Bernardo do Campo, fundada em 8 de Abril de 1553, apresentamos alguns textos sobre a formação do Município de São Bernardo do Campo e sobre suas datas comemorativas.

Foto: Centro de S.Bernardo do Campo, com a torre da matriz em construção - 1961.

Geralmente, comemoramos um aniversário na data de nascimento de uma pessoa, ou na data de fundação de uma localidade. Assim sendo, a maioria acredita que em 20 de Agosto de 1553, João Ramalho teria fundado São Bernardo do Campo, e aí está a cidade que foi evoluindo ao longo destes 456 anos e se tornou o que conhecemos hoje. Não é a verdade! Ou melhor, não é correta a afirmação.


O Processo de formação das cidades que formam o que já chamamos de Triângulo Paulista, de Pentágono Industrial, e que hoje conhecemos como Grande ABC, é bastante complexa – e é importantíssimo ressaltar que durante praticamente dois séculos e meio, a região esteve totalmente abandonada.

Em 8 de Abril de 1553, foi oficializada e reconhecida a fundação de Santo André da Borda do Campo, nome que recebeu o aldeamento fundado pelo já citado João Ramalho. Alguns afirmam que a localidade já existia desde 1549.

Em 1560, o governo-geral do Brasil ordena o abandono de Santo André da Borda do Campo, todos os moradores deveriam se transferir para a atual Capital do Estado. Morre Santo André da Borda do Campo. Motivos? Oficialmente, a vulnerabilidade aos ataques de tribos indígenas hostis, ou aliadas a invasores do território brasileiro.

De 1560 a 1717, todo o Grande ABC nada mais era do que um conjunto de imensas fazendas, que por herança foram sendo repassadas a terceiros, retalhadas, divididas, etc. Havia sim alguns pequenos ajuntamentos populacionais, meros lugarejos sem nenhuma importância econômica para a colônia, pequenas casas perdidas no campo, e nada mais do que isso.

Em 1717, por meio da reunião de várias fazendas doadas por fiéis, o Mosteiro de São Bento, de São Paulo, funda duas fazendas na região: São Bernardo e São Caetano. Na Primeira, os beneditinos dedicam-se a agricultura, pois as terras da fazenda mostravam-se próprias para este uso. Já na segunda, os beneditinos passam a produzir artefatos cerâmicos, já que a Fazenda de São Caetano localizava-se no encontro de dois rios (Meninos e Tamanduateí), o solo mostrava-se argiloso, e a argila era de excelente qualidade para a manufatura de telhas e tijolos. Na Fazenda de São Bernardo, ergue-se uma capela, com evocação de São Bernardo de Claraval, monge cisterciense, grande propagador da igreja e da ordem. A Figura deste santo foi e é intimamente ligada à História de Portugal, e ao próprio processo de independência dos Lusos.


Em torno desta capela, o mosteiro ergue a casa-grande da fazenda. Até hoje, especula-se que o local exato da sede, estava em algum ponto da margem do Ribeirão dos Meninos. Ou na confluência atual da Avenida Doutor Rudge Ramos com a Estrada das Lágrimas, ou, o mais provável, no entroncamento da Avenida Senador Vergueiro com a Avenida Kennedy, onde está o Carrefour Vergueiro.


Ao redor da casa-grande nasce um pequeno povoado, formado por escravos, índios assimilados, portugueses e caboclos. Todos eles, servidores da fazenda beneditina.

Como a sede da fazenda estava ás margens do Caminho para Santos (um deles, existiam vários que geralmente se encontravam em pontos distintos), os viajantes costumavam parar na velha capela da fazenda para orar, e pedir proteção na viagem, que era penosa. Geralmente, evocavam Nossa Senhora da Conceição, que graças aos pedidos dos viajantes, tornou-se Nossa Senhora da Boa Viagem. A fé em Nossa Senhora cresce na fazenda, e nasce o desejo de se construir uma capela em louvor a Senhora da Conceição. A Capela, não poderia ser erguida em terras do mosteiro, e desta forma, é estudado o melhor ponto para a construção da nova capela, já fora das terras da fazenda.

O Ponto encontrado, estava ás margens do mesmo Ribeirão dos Meninos, rio acima, em um vale “protegido dos ventos e das tempestades”. Neste ponto, em 1812, conclui-se a primeira capela em louvor a Nossa Senhora da Boa Viagem. No mesmo ano, o Marques de Alegrete eleva São Bernardo à condição de Freguesia do Município de São Paulo. O Ponto de construção desta capela, é a atual Praça da Matriz. A Capela ainda existe ás margens da Rua Marechal Deodoro, antigo Caminho Geral de Santos (ver texto com o título “1553?”, aqui no blog). De 1812 em diante, São Bernardo separa-se em definitivo da velha fazenda dos monges de São Bento.

Em 1867, a São Paulo Railway (Estrada de Ferro Santos a Jundiaí) inaugura a Estação São Bernardo (atual Santo André) distante 8Km da sede do município. Era o local mais próximo da linha. A Estação de São Caetano só seria inaugurada décadas depois. Ao redor da estação, começa a nascer a atual cidade de Santo André.

Em 1877, o Governo Imperial estabelece em São Bernardo um dos primeiros núcleos de imigrantes do Estado de São Paulo (outro é estabelecido em São Caetano, além de mais um no interior e de outro na Capital), a sede do núcleo, ou da hospedaria que selecionava os imigrantes recém-chegados, é instalada no casarão do Alferes Bonilha, velho casarão de taipa (pau-a-pique Paulista) localizado na atual Rua Marechal Deodoro, aonde hoje está a Praça Lauro Gomes. Este casarão foi construído no Século XVIII, e sumariamente demolido no início da década de 1950.

Em 1889, é proclamada a república no Brasil, e em 1890, São Bernardo se torna município, englobando todas as sete cidades atuais do Grande ABC.

Em 1938, com São Bernardo estagnada, o governo revoga a condição de Município, e transfere esta para Santo André, que crescia vertiginosamente. Todo o Grande ABC passa a se chamar Santo André. Era como se São Bernardo passasse a ser um bairro de Santo André depois de ser responsável pela fundação da cidade vizinha. Iniciam-se movimentações no sentido de restaurar a autonomia de São Bernardo.

Em 30 de Novembro de 1944, é criado por decreto estadual o Município de São Bernardo do Campo, desmembrado de Santo André. Em 1º de Janeiro de 1945, o município é instalado. Wallace Cochrane Simonsen, influente banqueiro Paulista, proprietário de terras em São Bernardo (atual Chácara Silvestre), e um dos líderes do movimento de recuperação da autonomia é nomeado prefeito.

Acompanhou o texto até aqui? Se acompanhou, me responda: Você viu a data de 20 de Agosto ser citada em algum ponto do texto sobre as datas-marco de São Bernardo? Não? Explicamos o por quê:

Santo André, o atual município, escolheu 8 de Abril, data de fundação da Vila de Santo André da Borda do Campo (tentativa de associar a sua recente origem a um passado remoto, justificando assim a sua autonomia como município perante a São Bernardo) como data de aniversário. Para não termos os dois municípios comemorando seu aniversário na mesma data, São Bernardo elege o 20 de Agosto como data magna. 20 de Agosto, é o dia dedicado a São Bernardo de Claraval, o importantíssimo santo católico que empresta seu nome a nossa cidade.


Bernardo de Fontaine foi um abade de Claraval, santo e Doutor da Igreja. Nascido em 1090 em Dijon, falecido em 1153 na abadia de Claraval.
São Bernardo fundou 72 mosteiros, espalhados por toda Europa: 35 na França, 14 na Espanha, 10 na Inglaterra e Irlanda, 6 em Flandres, 4 na Itália, 4 na Dinamarca, 2 na Suécia e 1 na Hungria, além de muitos outros que se filiaram à Ordem.
Bernardo morre em 1153 com 63 anos.


Foi canonizado em 18 de junho de 1174 por Alexandre III e declarado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830. É comemorado no dia 20 de agosto.

A Mais popular história a respeito de São Bernardo (o santo) é sobre a sua costumeira saudação. Ao entrar na abadia, costumava-se dirigir a imagem de Nossa Senhora dizendo “ave Maria”. Reza a lenda de que em uma dessas saudações, a imagem teria respondido “ave Bernardo”. Uma imagem retratando esta lenda está pintada no teto da igreja matriz de São Bernardo do Campo, e pode ser visto apenas com uma passadinha por lá

Portanto, 20 de Agosto é sim dia de São Bernardo, mas do santo, não da cidade. No entanto, é justa a homenagem da cidade a um santo tão combativo, envolvido com as causas de sua cidade e igreja, e que combateu reis e papas acusados de corrupção e de excessos. São Bernardo, é um exemplo para o nosso povo. Que o nosso povo, católico ou não, faça juz a este personagem.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Frase no DGABC - Fim de 1978

“O que espero para o próximo ano? Morrer”.
Júlio Boszczuk, polonês, 75 anos, pipoqueiro da praça Lauro Gomes, em São Bernardo.