< A Imagem que inicia esse texto, depois de muito tempo sem novidades por aqui, foi recebida pelo Facebook, via Paulo Dias.
Estamos beirando a chegada de um novo ano: 2012. Para São Bernardo do Campo, 2012 é um ano histórico, pois completaremos 200 anos da elevação de São Bernardo a Freguesia, providência do Marquês de Alegrete, que deu um "upgrade" no status quo daquele longínquo e esquecido subúrbio rural de São Paulo. Na época, éramos um "ajuntamento" perdido no Caminho do Mar, um lugarejo que ainda pertencia à Capital, e assim permaneceu até 1890. No entanto, resumir 2012 a uma "canetada" do Marquês de Alegrete não reflete o real significado do que o ano de 1812 significou. Como alguns sabem, São Bernardo nasceu como uma fazenda do Mosteiro de São Bento, em outro local, longe do que atualmente chamamos de "Centro", ás margens do Ribeirão dos Meninos (que era Ribeirão dos Couros, e o nome foi trocado devido a uma confusão nunca desfeita) nas proximidades (acredita-se) do atual Carrefour Vergueiro. Foi em 1812 que São Bernardo começou a ter os traços mais marcantes de sua caracterização, da transmutação do espaço rural em um núcleo urbano. Foi nesse ano que se delineou o que são hoje as nossas ruas centrais, todas elas partindo da Estrada de Santos (Rua Marechal Deodoro), formando quarteirões, formando a Praça da Matriz, e com esse tímido planejamento, desenhando a identidade do atual Centro.
Em 1812, a Matriz (a antiga) estava em construção, a "capelinha", ás margens da atual Rua Marechal Deodoro fazia ás vezes de igreja provisória, e dava a proteção necessária ao viajante que, por obrigação profissional, se arriscava a viajar de S.Paulo até Santos.
O Paralelo entre essa pequena resenha e a foto do cabeçalho é simples! Desde 1812, quando começamos a traçar a nossa atual "identidade uirbanística", com ruas, edifícios e outros empreendimentos indispensáveis a "vida na cidade", assistimos, incólumes, ao progresso, e também, depois do "apogeu" do desenvolvimento dessa cidade pequena, quando iniciamos a conversão para o rótulo de "cidade grande e industrializada", a queda e a descaracterização de tudo o que marcou a identidade de nossos pais, avós, bisavós e cia. ltda.
Quando entramos na década de 1950, as transformações na vida de nossa cidade geravam certa euforia: indústria, Via Anchieta, processo de emancipação concluído, muitas perspectivas... Tudo isso fez São Bernardo iniciar um processo semelhante ao vivido pela Capital entre 1900 e 1920: a substituição dos edifícios e marcos que retratavam uma cidade pequena e pacata por marcos mais pomposos, que pudessem dar aos habitantes novos orgulhos, novas imagens para apresentar, e a cara do "progresso" que a cidade vinha atingindo.
De 1950 pra cá perdemos a velha matriz, perdemos a velha Praça da Matriz, que passou por um sem número de reformas discutíveis, perdemos o Grupo Escolar, o Campo do Palestra, o Estádio Ítalo Setti, os cinemas da Marechal Deodoro, a velha magnólia, vimos os nossos rios serem sepultados debaixo de novas ruas e avenidas... A Cidade ganhou um novo aspecto, que seria a identidade de São Bernardo do Campo diante de suas novas gerações. Dentro desse contexto, estava inserida a construção do novo Paço Municipal, do lado da antiga casa de Tereza Delta, que depois viria a ser o Grupo Escolar João Ramalho, e posteriormente, a sede da Guarda Civíl Municipal. Erguido no encontro de dois rios, era um marco imponente do papel que São Bernardo almejava: metrópole industrial pujante. Um edifício de 20 andares, em estilo moderno, conjugado ás dependências do legislativo e a uma espécie de Centro Cultural, que jamais chegou a ser erguida, e que ficaria onde hoje está o terminal de ônibus/tróleibus.
O Edifício, rapidamente se encarregou de "alargar" as fronteiras do Centro da cidade, criando o "Centro Velho" (nunca conhecido por este nome, usado apenas para traçar um paralelo com o que ocorreu na Capital) composto pela Matriz e adjacências, o real Centro da cidade, e agora, pelo "Centro Novo", os arredores do Paço Municipal, símbolo da nova cidade.
Não demorou muito para que ele se tornasse o cartão postal da cidade, jogando todo o resto pra escanteio. Além disso, sua conformação viária e urbana fez com que todas as vias centrais convergissem de e para ele. Para complementar, quem vinha de Sto.André para São Bernardo, desembocava diretamente nele, quem vinha de S.Paulo também. Dessa maneira, o centro das decisões de S.Bernardo tornou-se também um marco visual para a nossa população, que acostumou-se ao longo dos anos a contornar a Praça Samuel Sabatini olhando para a enorme praça, para os lagos, para os chafarizes e para o imponente edifício.
O Problema é, para uma cidade que foi descartando os seus símbolos no decorrer dos anos, sempre apegada a "estética do progresso", os símbolos são passageiros, cumprem seu papel, e desaparecem. Tudo isso com o pretexto inconsciente de que, em uma cidade suburbana, nada é "de primeira". Não estamos no topo da hierarquia urbanística, somos secundários, a memória aqui é rotativa, e por isso não nos apegamos a essas coisas. Não olhamos um prédio de S.Bernardo como sendo um exemplar primoroso da arquitetura, sabemos que não são, um dia cairão para dar passagem a uma nova tentativa de impôr um novo símbolo, que nos coloque ao lado das "cidades avançadas". Tendo esse processo como tônica, o próprio prédio da prefeitura foi sendo largado, abandonado, mesmo com a administração e todos os seus tentáculos ainda funcionando naquele recinto. Chegaram até mesmo a propor a transferência da administração para a Avenida Kennedy, um "novo centro", simbolizaria melhor a S.Bernardo de hoje. O Prédio atual? Poderia ser demolido! Ali construiriam um piscinão para conter as enchentes do Centro. Não foi adiante, felizmente.
Pouco tempo atrás, o legislativo ergueu um anexo ao lado das dependências da câmara, destruindo a harmonia arquitetônica do conjunto do Paço Municipal em nome do "exíguo espaço a disposição do legislativo". Agora, derrubaram o plenário Tereza Delta. Não nos comunicaram, não nos deram satisfações, apenas colocaram uma escavadeira que começou a derrubar mais uma vez um pedaço da cidade, de nossa memória, destruindo assim mais um símbolo de S.Bernardo, mesmo que seja um dos que foram construídos em nome de outras derrubadas, mas que caracterizou a memória de pelo menos duas gerações.
Alguém poderá se manifestar defendendo o argumento citado acima, ironicamente, o da "arquitetura de segunda". Rebato dizendo que, um patrimônio não é composto apenas por arquitetura, e sim por memória afetiva, visual, simbólica.
Derrubam o plenário, gastam dinheiro (uma boa soma, para uma obra desnecessária) não dão satisfação, e mais uma vez seguem colocando a memória de nossa cidade no chão, varrendo nossos ícones para debaixo do tapete.
Em que os futuros sambernardenses se apegarão? Provavelmente a idéia de sair de S.Bernardo.