Foto: Centro de S.Bernardo do Campo, com a torre da matriz em construção - 1961. Geralmente, comemoramos um aniversário na data de nascimento de uma pessoa, ou na data de fundação de uma localidade. Assim sendo, a maioria acredita que em 20 de Agosto de 1553, João Ramalho teria fundado São Bernardo do Campo, e aí está a cidade que foi evoluindo ao longo destes 456 anos e se tornou o que conhecemos hoje. Não é a verdade! Ou melhor, não é correta a afirmação.
O Processo de formação das cidades que formam o que já chamamos de Triângulo Paulista, de Pentágono Industrial, e que hoje conhecemos como Grande ABC, é bastante complexa – e é importantíssimo ressaltar que durante praticamente dois séculos e meio, a região esteve totalmente abandonada.
Em 8 de Abril de 1553, foi oficializada e reconhecida a fundação de Santo André da Borda do Campo, nome que recebeu o aldeamento fundado pelo já citado João Ramalho. Alguns afirmam que a localidade já existia desde 1549.
Em 1560, o governo-geral do Brasil ordena o abandono de Santo André da Borda do Campo, todos os moradores deveriam se transferir para a atual Capital do Estado. Morre Santo André da Borda do Campo. Motivos? Oficialmente, a vulnerabilidade aos ataques de tribos indígenas hostis, ou aliadas a invasores do território brasileiro.
De 1560 a 1717, todo o Grande ABC nada mais era do que um conjunto de imensas fazendas, que por herança foram sendo repassadas a terceiros, retalhadas, divididas, etc. Havia sim alguns pequenos ajuntamentos populacionais, meros lugarejos sem nenhuma importância econômica para a colônia, pequenas casas perdidas no campo, e nada mais do que isso.
Em 1717, por meio da reunião de várias fazendas doadas por fiéis, o Mosteiro de São Bento, de São Paulo, funda duas fazendas na região: São Bernardo e São Caetano. Na Primeira, os beneditinos dedicam-se a agricultura, pois as terras da fazenda mostravam-se próprias para este uso. Já na segunda, os beneditinos passam a produzir artefatos cerâmicos, já que a Fazenda de São Caetano localizava-se no encontro de dois rios (Meninos e Tamanduateí), o solo mostrava-se argiloso, e a argila era de excelente qualidade para a manufatura de telhas e tijolos. Na Fazenda de São Bernardo, ergue-se uma capela, com evocação de São Bernardo de Claraval, monge cisterciense, grande propagador da igreja e da ordem. A Figura deste santo foi e é intimamente ligada à História de Portugal, e ao próprio processo de independência dos Lusos.
Em torno desta capela, o mosteiro ergue a casa-grande da fazenda. Até hoje, especula-se que o local exato da sede, estava em algum ponto da margem do Ribeirão dos Meninos. Ou na confluência atual da Avenida Doutor Rudge Ramos com a Estrada das Lágrimas, ou, o mais provável, no entroncamento da Avenida Senador Vergueiro com a Avenida Kennedy, onde está o Carrefour Vergueiro.
Ao redor da casa-grande nasce um pequeno povoado, formado por escravos, índios assimilados, portugueses e caboclos. Todos eles, servidores da fazenda beneditina.
Como a sede da fazenda estava ás margens do Caminho para Santos (um deles, existiam vários que geralmente se encontravam em pontos distintos), os viajantes costumavam parar na velha capela da fazenda para orar, e pedir proteção na viagem, que era penosa. Geralmente, evocavam Nossa Senhora da Conceição, que graças aos pedidos dos viajantes, tornou-se Nossa Senhora da Boa Viagem. A fé em Nossa Senhora cresce na fazenda, e nasce o desejo de se construir uma capela em louvor a Senhora da Conceição. A Capela, não poderia ser erguida em terras do mosteiro, e desta forma, é estudado o melhor ponto para a construção da nova capela, já fora das terras da fazenda.
O Ponto encontrado, estava ás margens do mesmo Ribeirão dos Meninos, rio acima, em um vale “protegido dos ventos e das tempestades”. Neste ponto, em 1812, conclui-se a primeira capela em louvor a Nossa Senhora da Boa Viagem. No mesmo ano, o Marques de Alegrete eleva São Bernardo à condição de Freguesia do Município de São Paulo. O Ponto de construção desta capela, é a atual Praça da Matriz. A Capela ainda existe ás margens da Rua Marechal Deodoro, antigo Caminho Geral de Santos (ver texto com o título “1553?”, aqui no blog). De 1812 em diante, São Bernardo separa-se em definitivo da velha fazenda dos monges de São Bento.
Em 1867, a São Paulo Railway (Estrada de Ferro Santos a Jundiaí) inaugura a Estação São Bernardo (atual Santo André) distante 8Km da sede do município. Era o local mais próximo da linha. A Estação de São Caetano só seria inaugurada décadas depois. Ao redor da estação, começa a nascer a atual cidade de Santo André.
Em 1877, o Governo Imperial estabelece em São Bernardo um dos primeiros núcleos de imigrantes do Estado de São Paulo (outro é estabelecido em São Caetano, além de mais um no interior e de outro na Capital), a sede do núcleo, ou da hospedaria que selecionava os imigrantes recém-chegados, é instalada no casarão do Alferes Bonilha, velho casarão de taipa (pau-a-pique Paulista) localizado na atual Rua Marechal Deodoro, aonde hoje está a Praça Lauro Gomes. Este casarão foi construído no Século XVIII, e sumariamente demolido no início da década de 1950.
Em 1889, é proclamada a república no Brasil, e em 1890, São Bernardo se torna município, englobando todas as sete cidades atuais do Grande ABC.
Em 1938, com São Bernardo estagnada, o governo revoga a condição de Município, e transfere esta para Santo André, que crescia vertiginosamente. Todo o Grande ABC passa a se chamar Santo André. Era como se São Bernardo passasse a ser um bairro de Santo André depois de ser responsável pela fundação da cidade vizinha. Iniciam-se movimentações no sentido de restaurar a autonomia de São Bernardo.
Em 30 de Novembro de 1944, é criado por decreto estadual o Município de São Bernardo do Campo, desmembrado de Santo André. Em 1º de Janeiro de 1945, o município é instalado. Wallace Cochrane Simonsen, influente banqueiro Paulista, proprietário de terras em São Bernardo (atual Chácara Silvestre), e um dos líderes do movimento de recuperação da autonomia é nomeado prefeito.
Acompanhou o texto até aqui? Se acompanhou, me responda: Você viu a data de 20 de Agosto ser citada em algum ponto do texto sobre as datas-marco de São Bernardo? Não? Explicamos o por quê:
Santo André, o atual município, escolheu 8 de Abril, data de fundação da Vila de Santo André da Borda do Campo (tentativa de associar a sua recente origem a um passado remoto, justificando assim a sua autonomia como município perante a São Bernardo) como data de aniversário. Para não termos os dois municípios comemorando seu aniversário na mesma data, São Bernardo elege o 20 de Agosto como data magna. 20 de Agosto, é o dia dedicado a São Bernardo de Claraval, o importantíssimo santo católico que empresta seu nome a nossa cidade.
Bernardo de Fontaine foi um abade de Claraval, santo e Doutor da Igreja. Nascido em 1090 em Dijon, falecido em 1153 na abadia de Claraval.
São Bernardo fundou 72 mosteiros, espalhados por toda Europa: 35 na França, 14 na Espanha, 10 na Inglaterra e Irlanda, 6 em Flandres, 4 na Itália, 4 na Dinamarca, 2 na Suécia e 1 na Hungria, além de muitos outros que se filiaram à Ordem.
Bernardo morre em 1153 com 63 anos.
Foi canonizado em 18 de junho de 1174 por Alexandre III e declarado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830. É comemorado no dia 20 de agosto.
A Mais popular história a respeito de São Bernardo (o santo) é sobre a sua costumeira saudação. Ao entrar na abadia, costumava-se dirigir a imagem de Nossa Senhora dizendo “ave Maria”. Reza a lenda de que em uma dessas saudações, a imagem teria respondido “ave Bernardo”. Uma imagem retratando esta lenda está pintada no teto da igreja matriz de São Bernardo do Campo, e pode ser visto apenas com uma passadinha por lá
Portanto, 20 de Agosto é sim dia de São Bernardo, mas do santo, não da cidade. No entanto, é justa a homenagem da cidade a um santo tão combativo, envolvido com as causas de sua cidade e igreja, e que combateu reis e papas acusados de corrupção e de excessos. São Bernardo, é um exemplo para o nosso povo. Que o nosso povo, católico ou não, faça juz a este personagem.
Um comentário:
Sou nascida em SBC e não sabia disso. Interessante ;)
Fiz o primeiro ano de História na FSA contigo, mas acho difícil que vc se lembre. Enfim.
Gostei do blog.
Beijo.
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