sábado, 12 de setembro de 2009

A Capital do Automóvel e suas lendas

Hoje, a convite de dois amigos que estão fazendo o seu trabalho de conclusão de curso pela Metodista de São Bernardo, saímos a passeio por locais bem pouco conhecidos de São Bernardo do Campo, locais que para a grande maioria, simplesmente não existem.

O Trabalho trata da vida que algumas pessoas levam nestes locais tão afastados e tão esquecidos. É bom ressaltar que os próprios prefeitos e prefeituras desconhecem na grande maioria das vezes estes lugarejos perdidos.

E Assim encontramos várias pessoas, em mais de 100km de jornada em um único dia, dentro da mesma cidade. Mas o último personagem encontrado, merece destaque.

Quem vê este senhor grisalho, nascido nos anos 30, não imagina que está diante de uma verdadeira lenda do automobilismo nacional. Falamos de Anísio Campos, homem de vários ofícios: Piloto, projetista, arquiteto, designer gráfico, artista plástico... Fomos encontrar Anísio em sua bela casa, em São Bernardo, em uma área próxima à Represa Billings, de difícil acesso.

Anísio iniciou a sua trajetória em São Bernardo nos anos 70, quando adquiriu a sua casa de uma família alemã – “aqui viviam muitos alemães naquela época” conta o próprio, que nos recebeu com a maior cordialidade possível. A Escolha era óbvia: Estava próximo ao Autódromo de Interlagos, e cercado por um verde exuberante, além de ter como cenário a bela Represa Billings se espraiando em suas janelas. Mas, como nem tudo são flores, foi a poluição do manancial que afastou o célebre automobilista de nossa cidade, ainda nos anos 70, quando locou a sua casa para uma família de Minas Gerais, limitando-se a fazer visitas esporádicas ao local. O Motivo da poluição é conhecido por todos: Insistiam em bombear o Rio Pinheiros para dentro da represa, o que matava o manancial e por conseqüência, todos os seus habitantes. Quem não se lembra dos caminhões repletos de peixes deixando as margens da represa?

Nos anos 80, é promulgada a Lei de Proteção aos Mananciais, comemorada em São Bernardo, ela simplesmente proibiu o lançamento dos esgotos do Rio Pinheiros na Represa Billings, e desde então, a represa tenta se recuperar: Já não existe mais o cheiro que segundo Anísio “fazia os olhos arderem” e caminhões basculantes repletos de peixes mortos são coisa do passado. Ainda existem em profusão os loteamentos clandestinos, criticados pelo ilustre morador, mas isso é assunto pra outra conversa.

Em 1993, Anísio Campos radica-se definitivamente em São Bernardo do Campo, e na bela casa monta o seu atelier, sua residência, e deixa em definitivo a Capital para residir na cidade que sempre respirou automobilismo, mesmo que indiretamente.

Em São Bernardo, Anísio trabalhou para a Simca (dos lendários “Simca Chambord”, “Jangada” e outros) e logo após este período começou a definir São Bernardo como a “Capital Política do Brasil”, como ele mesmo gosta de ressaltar até hoje, pois o que acontecia aqui afrontava o autoritarismo que estava instalado nas esferas superiores do poder. Anísio como piloto, conviveu e dirigiu carros que marcaram época ao lado de José Carlos Pace, Wilson Fittipaldi, Emerson Fittipaldi, Francisco Lameirão, Luiz Pereira Bueno, e vários outros “ases” do volante.

Projetou com Rino Malzoni (de quem era amigo pessoal) o DKW Malzoni, sucesso absoluto nas pistas de corrida, além de ter pilotado em equipes precursoras, como a Vemag e a Willys. Junto com o mesmo Malzoni, desenvolveu o lendário “Carcará”, um monoposto criado exclusivamente para se estabelecer um recorde de velocidade oficial, e estabeleceram: 212,903 km/h. Recorde sul-americano e brasileiro para motores de um litro, aspirados. Ou seja, 212 por hora com um carro mil cilindradas, ah, e é bom ressaltar: O Recorde não foi quebrado até hoje!

Pintou o seu primeiro quadro em 1946, e nunca mais parou com os seus trabalhos. Modernos, tridimensionais, bem humorados e mesclando as curvas dos automóveis com as curvas femininas.

E Assim como a cidade, Anísio nunca parou, e não está parado: Continua desenvolvendo os seus projetos, e dá prosseguimento ao seu trabalho formando uma nova geração de profissionais da área. Atualmente também escreve para a respeitada revista Car and Driver Brasil e escreve para o site Óbvio, além de dar entrevistas e consultorias constantes a várias publicações especializadas.

Ainda falando sobre São Bernardo, Anísio diz que gostaria de ver a Billings com a sua orla restaurada, com um belo urbanismo, com mais respeito a natureza exuberante que a cidade ainda possui, e não poupa críticas a como a cidade trata o pouco verde e os poucos cenários deslumbrantes que ainda restam, aonde a marca principal, é o abandono.

Assim como São Bernardo foi pioneira na indústria automobilística, assim como a cidade deu vazão a sonhos e desilusões nesse campo, a mesma cidade guarda um pioneiro, um baluarte acima de tudo. Aonde está a gratidão de nossos governantes que deveriam apresentar a São Bernardo o legado que este homem vem construindo há décadas?

Sempre vale a pena lembrar!

*Imagens:
Foto 1 - Anísio Campos em 12-09-2009 - Foto minha
Foto 2 - Anísio Campos, Emerson Fittipaldi e Jim Russel, em 1970.

2 comentários:

Unknown disse...

Como é possível desconhecermos o que está no nosso próprio território, e, ainda por cima, destruir? Felizmente há pessoas críticas em relação a isso, e aquelas que fazem questão de divulgar.

Cristiano disse...

POr favor seria possível me ajudarem na pesquisa de quem foi a vereadora Aracy D'Angelo? Pelo pouco que levantei sei que foi a segunda mulher que ocupou a câmara municipal...mas nada! cralcantara@uol.com.br