sexta-feira, 24 de julho de 2009

70 Anos de "jornalecos"

* Hoje não tem foto!

Na década de 1930, os jornais se tornam um veículo de informação com uma abrangência mais popular, e ganham as pequenas cidades, depois de já terem há muito ganho as grandes. A Circulação dos jornais é que era diferente: Nestes tempos, era semanal (o mais comum em nossa região), quinzenal, ou até mesmo mensal.

Com a popularização das tipografias, jornais pululavam até mesmo em São Bernardo, na grande São Bernardo de outrora (sem o “do Campo” – que englobava todo o ABC). E da mesma forma que estes jornais apareciam, eles desapareciam, do dia para a noite, sem deixar vestígios, e também sem deixar lamentos profundos.

Na Época, ainda não era muito ventilada a idéia de “liberdade de imprensa” ou de “imprensa parcial” (conceito bastante discutível – inexistente aliás). Certas correntes da sociedade viam nos jornais uma oportunidade de propagar as suas idéias, lutas, reivindicações, e claro, os seus candidatos.

Com exceção feita aos grandes jornais, que já circulavam na época, a imprensa era literalmente “marrom”, e trabalhava em benefício de alguém, geralmente um político ou um partido. Assim foi com vários periódicos que circularam pela nossa região, cito: “O Imparcial”, “O São Bernardo” (depois “O Santo André”), “Borda do Campo”, entre outros. Nessa velha São Bernardo, a política se dividia em duas frentes: Flaquistas, ou seja, adeptos dos familiares do velho “coronel” Fláquer – E os “outros”. Os outros, eram os que tinham predileção pela corrente política oposta a dos Fláquer, esta, variava conforme a época. Em determinado período, ainda existiram os comunistas (que elegeram Armando Mazzo como prefeito de São Bernardo pelo PCB – Mazzo ganhou, mas foi cassado, nunca assumiu, e foi o único prefeito eleito pelo PCB) e os integralistas, militantes de extrema direita, seguidores da “sigma” de Plínio Salgado e de um movimento com fortes inspirações fascistas. Estes dois últimos travavam batalhas nas ruas dos distritos de São Bernardo de forma corriqueira. Quando acontecia, socos, pauladas e cacetadas sobravam para quem estivesse no meio.

Era comum então, os Fláquer dominarem um ou mais jornais, e os opositores, algum outro. Enquanto uma corrente dominava a política da região, seu periódico distribuía elogios e gentilezas à administração pública – geralmente usando palavras como “progresso”, “labor”, “valor”, “virtudes” e outras mais – um puxa-saquismo enfadonho.


Já a outra corrente, a opositora, criticava ferrenhamente a administração, e não poupava ninguém! Para os opositores, São Bernardo vivia em uma espécie de idade média – Tudo por aqui se resumia em trevas, obscuridade, atraso, corrupção, etc. E assim se fazia o revezamento, conforme a corrente dominante.


Algumas brigas se tornaram famosas, e célebres. Como a briga que se travou entre o periódico editado em Santo André, e o periódico pró-autonomia de São Bernardo. Enquanto um dizia que a retomada da autonomia em São Bernardo condenaria aquela vasta porção de terra ao atraso, o outro exaltava os emancipacionistas, conclamando os São-Bernardenses a lutar pela liberdade. Isso em 1943/44. Quando São Caetano resolver se separar de Santo André (São Caetano brigava por sua autonomia desde a década de 1920), lançou-se o Jornal de São Caetano, propaganda oficial dos autonomistas. Enquanto isso, a Família Fláquer bombardeava contra a autonomia de São Caetano nos jornais Andreeenses, usando os mesmos pretextos e palavras: Atraso, aumento de impostos, etc. Quando o “Estado Novo” de Getúlio Vargas entrou em vigor “pra valer”, a atuação do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda começou a atuar fortemente e até a encorajar o “empastelamento” de jornais opositores ao regime de Vargas – pra quem não sabe, empastelamento era na prática a depredação da redação do jornal que era considerado “inimigo”. A Prática era mais comum no início do Século XX, mas se arrastou por um longo período até cair no esquecimento.


Com a atuação do DIP, os “jornalecos” do ABC caíram no esquecimento, comunistas e integralistas foram colocados na ilegalidade, e esse regime praticamente ditatorial colocou uma mordaça em nossa imprensa regional. Se por um lado a atitude trouxe paz ao ABC de outrora, ela também tirou o costume de se envolver em política que existia na região. A Política era discutida em todos os ambientes, e como a ditadura (silenciosa) imperava, e um único regime/partido vigorava, não havia mais o que se discutir.

Mesmo assim, muitos “caciques” da região continuaram desfrutando de poder, afinal, essa manobra é conhecida: Torne-se amigo do ditador, leve o seu apoio e o apoio de seus correligionários que ele certamente te dará “benefícios”. Entendeu? Claro que entendeu!


Dos anos 30/40 até hoje, já se vão mais de 70 anos. E Hoje, ao circular pelo meu bairro, consigo um “exemplar gratuito” de dois periódicos que circulam em São Bernardo do Campo, na São Bernardo do Campo de 2009, do Século XXI. No Primeiro que começo a folhear, com um cabeçalho onde a cor vermelha domina: Elogios rasgados a administração municipal. Quem o lê, acha que São Bernardo vive um período iluminista, bonito, colorido. A População nunca foi tão feliz! Já no outro, dominado pelo azul e pelo amarelo: Críticas, corrupção, violência, falta de moradia. Mas será que ambos falam da mesma cidade? E não é que falam!


Realmente. A Nossa mídia não mudou nada em 70 anos.


* Antigamente a população sabia a quem os “jornalecos” serviam, mas hoje... Acredita em qualquer coisa... Seja de que lado ela venha.

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