sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Turistas em São Bernardo?
* Imagem: Vila Balneária, anos 50 - Acervo Fábio S.Gomes
Há alguns anos, algumas notícias que chegam até os meus olhos noticiam “fabulosos investimentos” no “turismo de São Bernardo do Campo”. O Papo começou a ficar mais “forte” na última administração, e continua nesta, inclusive com uma secretaria dedicada ao tema (não exclusivamente, mas ostenta também o turismo como “bandeira”).
Lembremos: No Início do Século XX, São Bernardo era uma famosa estação de veraneio para famílias de Santos, que aqui possuíam inúmeras chácaras e propriedades. Eles vinham para escapar do rigoroso verão do Litoral, quente ao extremo, e encontravam em São Bernardo um clima mais ameno, com noites bem agradáveis e ás vezes até frias. Desta forma, Santistas tiveram muita influência no crescimento de São Bernardo, fundando bairros, iniciando loteamentos, constituindo diversos empreendimentos. Apenas como exemplo, o atual Bairro Anchieta (o Parque Anchieta, pequena parte do bairro, mais precisamente) foi originalmente um haras (Haras Anhanguera) de propriedade de um Santista, que acabou por iniciar o loteamento do Parque Anchieta. As Árvores que enfeitam o belo bairro, são as que enfeitavam o haras, plantadas pela própria esposa do dono.
Nos anos 40, massifica-se a tradição de vir de São Paulo até as “Colônias” (Bairros Demarchi, Battistini e parte do Bairro dos Casa) para comer frango com polenta. Mas Frango com polenta? Como assim? A Iguaria era quase que um “arroz com feijão” dos Italianos da cidade, que não entendiam como alguém poderia fazer tanto esforço para sair da Capital e ir até aquele “fim de mundo” para saborear uma comida tão simples! Ainda mais a Cidade de São Paulo tendo tantos Italianos quanto São Bernardo! (em proporção)
A Verdade é que alguns enxergaram neste costume uma forma de abrir um novo negócio, e assim as famílias Demarchi, Capassi, Morassi, e outras, acabaram por abrir restaurantes, e passaram a oferecer o vinho que fabricavam, a polenta que faziam com o milho que plantavam, colhiam e moíam ali mesmo, e o frango da galinha que o próprio cliente escolhia no galinheiro. Passava-se o dia todo nas “Colônias”. Hoje a polenta é frita, o vinho é feito com uvas do sul (quando não vem inteiramente processado do Rio Grande do Sul) e o frango deve vir de Santa Catarina. No entanto, o ramo cresceu e São Bernardo abriga o maior restaurante do Brasil, quase sempre lotado e muito famoso. E quem diria: Famoso pelo frango com polenta!
Ainda nos anos 40, e principalmente nos anos 50 e 60, são os pescadores que invadem a Represa Billings. Sábado, á partir das cinco da manhã, já era possível ver gente com linha de pesca e com os caniços de taquara se dirigindo ao “Rio Grande” (Riacho Grande) para procurar um bom lugar e poder passar o dia ali, pescando. Os ônibus que partiam da Capital, principalmente do Sacomã e do Parque Dom Pedro II vinham lotados pra cidade nas primeiras horas do dia. Na hora do almoço, almoçava-se ali mesmo na “Vila Rio Grande”, ou comia-se algo trazido de casa. Os mais “caseiros”, voltavam cedo e almoçavam em casa. Assim, desenvolveu-se todo um comércio voltado a estes pescadores que “invadiam” a cidade aos finais de semana. No Início da Estrada do Rio Acima (Hoje, Rua Rio Acima em seu trecho inicial) as casas de pesca e caça, e na orla da represa, os restaurantes, que também eram ambientes românticos freqüentados por casais do ABC e Capital, que vinham aqui para dançar, ou jantar ás margens do espelho d´agua, principalmente a noite, á luz de velas, nas cantinas que existem (um pouco decadentes) até hoje.
Ah, e iam além, pois já nos anos 60, multiplicavam-se os motéis na Vila Balneária.
Nos anos 70, foi a vez da “farofada” no Parque Estoril, tão menosprezada pela população da cidade que via o operariado das fábricas andando de pedalinho na represa e fazendo grandes piqueniques, principalmente aos domingos, com suas famílias. As Mesmas famílias de operários, ou pessoas de origem mais humilde, freqüentavam também a “prainha” do Riacho Grande nos dias de calor, pois não tinham condições de encarar uma viagem até a Baixada Santista, coisa que é comum até os dias de hoje, mesmo com a represa em condições nada adequadas de saneamento.
Nos Anos 20, com a reconstrução e reforma do Caminho do Mar, e com a pavimentação do trecho de serra, executados na gestão do Presidente do Estado (Governador) Washington Luiz, cria-se em São Bernardo uma estrutura para um “turismo de passagem”, com os restaurantes, bares e pensões ao longo da Rua Marechal Deodoro (que era o Caminho do Mar, e passagem obrigatória para quem viajava entre São Paulo e Santos). No Alto da Serra, o Pouso Paranapiacaba (Casa de Pedra) torna-se um local de contemplação. Era comum a passagem de visitantes por ali durante o dia e durante a noite.
São Bernardo, já teve várias épocas, e vários tipos de turistas, que aproveitavam aqui diversas atrações que o pequeno lugarejo, na época considerado “interior” (contradizendo totalmente o sentido inicial de “interior” – termo usado para designar o que estava além do litoral). Mas hoje, o que sobrou foi degradação, e uma sombra do que tudo isso representava antigamente. Os Pescadores ainda estão aí, os visitantes da Rota dos Restaurantes (ou Colônias) também, mas tudo decaiu.
Quem recebe o turista hoje, são as ruas mal cuidadas do Bairro Demarchi. Esburacadas, feias, sem trato urbanístico, repletas de fiação exposta, poluídas visualmente. Ali, não existe absolutamente nada que lembre o passado do lugar, praticamente nenhum ponto de interesse para o turista, que vê no local apenas uma avenida feia que tem um bom restaurante. Dentro dos restaurantes, as famílias ainda guardam uma lembrança de como era tudo aquilo no passado, mas as administrações municipais, não ajudam.
Na Represa: Poluição, favelas infestando as margens, e nos pontos de passagem dos pescadores (como o porto das balsas), uma infestação de barracas que vendem alimentos e outros gêneros sem a mínima condição de higiene, sem a mínima organização. Os Barracos existem em profusão.
E a Vila Balneária? Quem se aventuraria ali na entrada da Estrada do Vergueiro com aquela invasão terrível que só contribui para a poluição do manancial que fornece a água que bebemos (e a encarece)?
A Prainha do Riacho Grande, tão estragada quanto a Praça Lauro Gomes, só que ainda mais desorganizada. Barracas, camelôs, ruas de terra, e nenhuma infra-estrutura. O Clube de Regatas Lauro Gomes abandonado, sem o remo, enquanto na Capital os remadores só tem a raia olímpica da USP. Será que São Bernardo e o velho Regatas não poderiam sediar um centro de formação de atletas do remo? Esporte outrora tão popular e hoje em plano infinitamente inferior.
Pensar em revitalizar a Vera Cruz, em construir um Museu do Automóvel, são atitudes muito nobres, mas por que não tratar melhor o turista que ainda tenta visitar São Bernardo do Campo? Fazer com que ele conheça a história do lugar? Dar um trato melhor para as ruas, para as avenidas?
Fica a minha humilde sugestão.
Ah, e as famílias de Santos hoje ficam em Santos mesmo.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Lauristas x Terezistas
Imagens: Tereza Delta e Lauro Gomes - Acervo PMSBC
Em tempos de ebulição política, de discussões polêmicas na câmara de vereadores da cidade, falamos da principal refrega política da História de São Bernardo do Campo, a briga entre os “Lauristas” e os “Terezistas”.
Para o São-Bernardense mais antigo, os dois termos são bastante familiares, mas para os São-Bernardenses de hoje, são definições bem estranhas, mas que definiam muito bem a “bipolaridade” política da cidade em seus primeiros anos de recuperação da autonomia.
Voltemos no tempo: Corre o ano de 1944. Neste ano, São Bernardo recuperaria a sua posição como município depois de travar uma imensa batalha burocrática, a batalha pela sua “emancipação” de Santo André, que havia sido imposta ao município que sempre foi a “cabeça” da região em 1938, debaixo de muitos protestos. O Líder emancipacionista, o banqueiro Wallace Cochrane Simonsen, seria nomeado prefeito da cidade, e lutava para organizar uma estrutura administrativa. Pensem: Não havia sequer uma prefeitura, o governo municipal não tinha nada, nem sede, nem arrecadação, absolutamente NADA!
Daí, podemos imaginar o quão árdua foi a tarefa de Simonsen (ou “Simos”, como os “conterrâneos” chamavam o “inglês”, muito querido pela população). Para complicar, o Brasil atravessava o período da segunda guerra mundial, e o resultado disso era: Escassez de alimentos, que eram racionados, e esse racionamento era controlado pela prefeitura, de maneira não muito organizada, pois os comerciantes colocavam em prática um “mercado negro” de itens de primeira necessidade, que escondiam em seus estabelecimentos e depois vendiam a preços muito elevados. Na lei da oferta e da procura, era assim que o comerciante menos honesto arrecadava mais com o sofrimento alheio. A Prefeitura, fazia o que podia.
Ainda no início dos anos 40, chega a cidade uma família de São Paulo: Maurício Caetano de Castro e sua esposa: Tereza Delta. Uma mulher muito bonita, que tinha como passatempo a equitação, prática que exercia pelas ruas da cidade pacata da época. Tereza e seu marido moravam no atual Paço Municipal, na casa que hoje é a sede da Guarda Civil Municipal. Certo dia, enquanto Tereza cavalgava pela Rua Marechal Deodoro, reza a lenda que um indivíduo teria feito um “gracejo” com a bela moça, Tereza não teria gostado, e desceu para ouvir as explicações do indivíduo, que certamente não esperava aquela reação. Como na cidade pequena de outrora as notícias corriam rápido, logo Tereza ganhou fama de mulher corajosa, que metia medo em muita gente.
Com esta fama, algumas mulheres da cidade foram procurá-la em sua casa, pedindo a sua participação em uma reclamação que fariam a um comerciante, que segundo elas, escondia gêneros alimentícios em sua “venda”. Tereza aceitou, e junto com as tais mulheres, entrou porta adentro intimando o comerciante, que intimidado “fez aparecer” várias latas de óleo. Com essa atitude, Tereza foi alçada a uma posição que ela mesma não esperava alcançar: A de mulher batalhadora, preocupada com o povo, e com muita fibra. Foi a “deixa” para a intrépida mulher se envolver na agitada política local.
Pouco depois, Tereza seria nomeada prefeita de São Bernardo do Campo, mais precisamente em 1947. Depois foi eleita vereadora, e foi presidente da casa, que governou com astúcia, habilidade, e principalmente com muito conhecimento do regimento interno. As sessões na época eram bastante concorridas pela população, que comparecia em peso à sede da antiga câmara, na Rua Marechal Deodoro, instalada em um salão cedido pela Família Pelosini.
Com Tereza, muitos políticos “forasteiros” ascenderam na política local, em detrimento aos políticos tradicionais do lugar, o que obviamente gerou descontentamento e uma oposição ferrenha, que não trazia problemas, pois José Fornari governava com maioria na câmara, liderada por Tereza.
Com este conforto, Tereza prepara a candidatura de seu irmão, Edmundo Delta para as eleições municipais de 1951. No entanto, elementos do Partido Trabalhista Brasileiro, que compunha a oposição aos “Terezistas”, movimentavam-se nos bastidores, e fariam aparecer o nome de um novo elemento da política municipal: Lauro Gomes de Almeida. Mas afinal, quem era este Lauro Gomes que registrou a sua candidatura por procuração? A População, ávida por informações, já sabia que ele estava em Paris, em viagem de férias com sua esposa, e que este era genro de Arthur Rudge Ramos, diretor de um grande frigorífico na Capital, Mineiro da cidade de Rochedo, e herdeiro da fabulosa Chácara Rudge Ramos, local que conta com uma porção preservada, e que estava localizado na atual divisa entre o Rudge Ramos e o Taboão, nas proximidades da fábrica da Ford.
A Curiosidade tomou conta do São-Bernardense, que via todos os dias nos jornais da Capital, a propaganda eleitoral do misterioso candidato, que foi então recebido em São Bernardo com a maior das festas. Sua fala grave, seu porte avantajado, tudo isso cativava por demais a população. Lauro Gomes é eleito, e dá início ao “Laurismo”, como ficou conhecida a corrente dos opositores de Tereza Delta, os “Terezistas”.
Em nome desta preferência política, muitas discussões acaloradas aconteceram nos bares da cidade, nas conversas familiares, nos estabelecimentos comerciais, enfim, em todos os locais da cidade. A “Briga” era algo que realmente dividia São Bernardo do Campo nos anos 50.
Lauro Gomes a frente da prefeitura, não ficou conhecido por um político que tinha o “trato” das campanhas com a população, mas iniciou uma gestão que começou a pensar na São Bernardo do futuro, e graças aos esforços empreendidos por ele nos bastidores, algumas montadoras como a Volkswagen escolheram a posição privilegiada de São Bernardo, entre o porto e a capital, para se instalar.
Asfalto, praças, jardins, escolas, postos de saúde... Um prefeito de indiscutíveis obras e de uma vida bastante obscura e conturbada. Praticamente um personagem folclórico da cidade.
Mas pouco antes, ainda em 1950, uma cisão na câmara entre os Terezistas e a oposição, que ainda não era Laurista, teve um desfecho trágico. Tereza saía da sede do partido, nas proximidades do Grupo Escolar (atual Praça Lauro Gomes) quando sua comitiva é abordada por oposicionistas. Começa ali uma discussão, fervorosa, que partiu para as bofetadas. Logo depois, de trás do muro do Grupo Escolar, são disparado tiros. Todos correm. Tereza se salva, mas seu segurança estava morto. O Caso nunca foi completamente esclarecido, e o episódio manchou a curta história política da cidade que recomeçava a traçar os seus destinos. A Imagem de “heroína” e de “protetora dos pobres” fica ainda mais fortalecida, e a fama de rebelde de Tereza, uma pioneira, como a “caudilha de São Bernardo” fica gravada na história.
Lauro foi reeleito prefeito, e morreu, segundo alguns, na cama de sua amante, de um ataque cardíaco. A Versão oficial diz que Lauro morreu no Jóquei Clube de São Paulo, em uma disputa de páreos. Nesta época, já nos anos 60, Lauro Gomes governava a vizinha Santo André, que praticamente suplicou ao prefeito que se tornasse candidato naquela cidade. Lauro aceitou, mas nunca completou o mandato.
Já Tereza deu prosseguimento a sua carreira no legislativo, foi vereadora por diversas vezes, e alcançou a Assembléia Legislativa do Estado. Se afastou da vida pública nos anos 60, dedicando-se a empresa que possuía.
Tiros, atentados, greves diversas, redemocratização... Até o voto fantasma na câmara de hoje...
São Bernardo e a sua conturbada política...
* Bibliografia Consultada: Vila de São Bernardo – Attílio Pessotti
domingo, 13 de setembro de 2009
Primórdios da produção de automóveis em SBC
Depois dela: Willys-Overland, Mercedes-Benz, Scania, Karmann-Ghia, Ford (no mesmo local da antiga Willys) fizeram a fama da cidade, mas a história não é bem essa, e essa história, conta com duas empresas pioneiras, que nasceram em São Bernardo do Campo e se dedicaram aos automóveis bem antes das “gigantes” citadas acima.
Mas antes de falar delas, é importante diferenciar a “produção” de automóveis da “montagem” de automóveis, conhecida pela sigla CKD, que na prática, significa importar os veículos desmontados e montar em outro local. Assim começou a indústria automobilística em São Bernardo, mais precisamente com duas pioneiras: Brasmotor e Varam Motores.
Em 1948, uma nova empresa pede licença de funcionamento para iniciar as suas atividades na cidade, era a Companhia Distribuidora Brasmotor, que instala seus escritórios e fábrica na Rua Marechal Deodoro, 421 (antigo). A Definição do empreendimento era essa: “Fábrica de montagem de automóveis e caminhões”.
A Brasmotor, foi fundada pelo Boliviano Hugo Miguel Etchenique, que depois de se dedicar a montagem de automóveis de diversas marcas no regime CKD, iniciou a importação de refrigeradores, e posteriormente a fabricação destes mesmos produtos, agora com o nome fantasia “Brastemp”, que se tornou um símbolo nacional. A Empresa existe até hoje, mas não em seu pioneiro local, ocupado pela rede de supermercados Wal Mart, na Praça Miguel Etchenique.
Mas nos primórdios, a empresa montou veículos de diversas marcas, “produzindo” os primeiros VW Sedan (Fuscas) com “certidão de nascimento” Brasileira. Nos anos 50, já não se dedicava a montagem de automóveis.
Já a Varam Motores, iniciou as suas atividades de forma tímida, em 1949 com a instalação de uma bomba de gasolina em São Bernardo. Mais tarde, construiu uma grane unidade fabril, praticamente vizinha da Brasmotor, aonde montou veículos da marca FIAT, Nash (Norte-Americana) e Volkswagen além de outras marcas muito menos conhecidas.
A Varam Motores foi adquirida pela Simca do Brasil, empresa francesa que no mesmo prédio iniciou a produção de modelos que marcaram época: Simca Chambord (sedan que imitava os “rabos de peixe” norte-americanos), Simca Jangada (perua) e Simca Presidente. A Simca, acabou quando o seu controle acionário foi adquirido pela Chrysler, famosa montadora norte-americana que produziu no Brasil a linha “Dodge” (Charger, Polara, entre outros).
No fim dos anos 70, a histórica fábrica da pioneira Varam Motores foi adquirida pela Volkswagen, sua “vizinha da frente” que ali instalou a Volkswagen Caminhões, posteriormente transferida para Resende, no Estado do Rio de Janeiro. Quando a VW caminhões deixou o local, o prédio caiu em situação de abandono, e foi posteriormente demolido, no fim dos anos 90.
A Mesma área acabou sendo invadida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), atitude que acabou colocando o terreno em destaque nos principais jornais do país. Pouco tempo depois, atendendo a um pedido de reintegração de posse, a Polícia Militar desocupou o local, que foi totalmente cercado.
Já no Século XXI, as Casas Bahia instalaram ali um centro de distribuição, visando a proximidade com a Via Anchieta (mesmo motivo que levou Varam e Brasmotor a escolherem o local, pelo fácil acesso ao Porto de Santos e a Capital) e com o futuro trecho sul do Rodoanel. No entanto, o velho edifício já tinha sido derrubado.
Já a Brasmotor (Brastemp) vendeu a sua planta industrial para o Wal Mart, e se instalou por pouco tempo na Avenida Rotary, em um prédio bem menor, que foi ocupado também pela TRW (atual Center Castilho). Posteriormente, se transferiu para Rio Claro (SP), já sob controle acionário da norte-americana Whirpool.
A História da Capital do Automóvel, iniciou-se nos anos 40, mais ou menos dez anos antes do que a “grande mídia” costuma citar. Uma marca de pioneirismo para São Bernardo do Campo.
* Foto: Fachada da Varam Motores – Início dos anos 50. (Acervo de Fábio Silva Gomes – Fotografia de Beltran Asêncio)
sábado, 12 de setembro de 2009
A Capital do Automóvel e suas lendas
O Trabalho trata da vida que algumas pessoas levam nestes locais tão afastados e tão esquecidos. É bom ressaltar que os próprios prefeitos e prefeituras desconhecem na grande maioria das vezes estes lugarejos perdidos.
E Assim encontramos várias pessoas, em mais de 100km de jornada em um único dia, dentro da mesma cidade. Mas o último personagem encontrado, merece destaque.
Quem vê este senhor grisalho, nascido nos anos 30, não imagina que está diante de uma verdadeira lenda do automobilismo nacional. Falamos de Anísio Campos, homem de vários ofícios: Piloto, projetista, arquiteto, designer gráfico, artista plástico... Fomos encontrar Anísio em sua bela casa, em São Bernardo, em uma área próxima à Represa Billings, de difícil acesso.
Anísio iniciou a sua trajetória em São Bernardo nos anos 70, quando adquiriu a sua casa de uma família alemã – “aqui viviam muitos alemães naquela época” conta o próprio, que nos recebeu com a maior cordialidade possível. A Escolha era óbvia: Estava próximo ao Autódromo de Interlagos, e cercado por um verde exuberante, além de ter como cenário a bela Represa Billings se espraiando em suas janelas. Mas, como nem tudo são flores, foi a poluição do manancial que afastou o célebre automobilista de nossa cidade, ainda nos anos 70, quando locou a sua casa para uma família de Minas Gerais, limitando-se a fazer visitas esporádicas ao local. O Motivo da poluição é conhecido por todos: Insistiam em bombear o Rio Pinheiros para dentro da represa, o que matava o manancial e por conseqüência, todos os seus habitantes. Quem não se lembra dos caminhões repletos de peixes deixando as margens da represa?
Nos anos 80, é promulgada a Lei de Proteção aos Mananciais, comemorada em São Bernardo, ela simplesmente proibiu o lançamento dos esgotos do Rio Pinheiros na Represa Billings, e desde então, a represa tenta se recuperar: Já não existe mais o cheiro que segundo Anísio “fazia os olhos arderem” e caminhões basculantes repletos de peixes mortos são coisa do passado. Ainda existem em profusão os loteamentos clandestinos, criticados pelo ilustre morador, mas isso é assunto pra outra conversa.
Em 1993, Anísio Campos radica-se definitivamente em São Bernardo do Campo, e na bela casa monta o seu atelier, sua residência, e deixa em definitivo a Capital para residir na cidade que sempre respirou automobilismo, mesmo que indiretamente.
Em São Bernardo, Anísio trabalhou para a Simca (dos lendários “Simca Chambord”, “Jangada” e outros) e logo após este período começou a definir São Bernardo como a “Capital Política do Brasil”, como ele mesmo gosta de ressaltar até hoje, pois o que acontecia aqui afrontava o autoritarismo que estava instalado nas esferas superiores do poder. Anísio como piloto, conviveu e dirigiu carros que marcaram época ao lado de José Carlos Pace, Wilson Fittipaldi, Emerson Fittipaldi, Francisco Lameirão, Luiz Pereira Bueno, e vários outros “ases” do volante.
Projetou com Rino Malzoni (de quem era amigo pessoal) o DKW Malzoni, sucesso absoluto nas pistas de corrida, além de ter pilotado em equipes precursoras, como a Vemag e a Willys. Junto com o mesmo Malzoni, desenvolveu o lendário “Carcará”, um monoposto criado exclusivamente para se estabelecer um recorde de velocidade oficial, e estabeleceram: 212,903 km/h. Recorde sul-americano e brasileiro para motores de um litro, aspirados. Ou seja, 212 por hora com um carro mil cilindradas, ah, e é bom ressaltar: O Recorde não foi quebrado até hoje!
Pintou o seu primeiro quadro em 1946, e nunca mais parou com os seus trabalhos. Modernos, tridimensionais, bem humorados e mesclando as curvas dos automóveis com as curvas femininas.
E Assim como a cidade, Anísio nunca parou, e não está parado: Continua desenvolvendo os seus projetos, e dá prosseguimento ao seu trabalho formando uma nova geração de profissionais da área. Atualmente também escreve para a respeitada revista Car and Driver Brasil e escreve para o site Óbvio, além de dar entrevistas e consultorias constantes a várias publicações especializadas.
Ainda falando sobre São Bernardo, Anísio diz que gostaria de ver a Billings com a sua orla restaurada, com um belo urbanismo, com mais respeito a natureza exuberante que a cidade ainda possui, e não poupa críticas a como a cidade trata o pouco verde e os poucos cenários deslumbrantes que ainda restam, aonde a marca principal, é o abandono.
Assim como São Bernardo foi pioneira na indústria automobilística, assim como a cidade deu vazão a sonhos e desilusões nesse campo, a mesma cidade guarda um pioneiro, um baluarte acima de tudo. Aonde está a gratidão de nossos governantes que deveriam apresentar a São Bernardo o legado que este homem vem construindo há décadas?
Sempre vale a pena lembrar!
*Imagens:
Foto 1 - Anísio Campos em 12-09-2009 - Foto minha
Foto 2 - Anísio Campos, Emerson Fittipaldi e Jim Russel, em 1970.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Foi um rio que passou em minha vida
No início do povoamento de nossa região, estes cursos d´agua eram fundamentais para o desenvolvimento das cidades e vilas, pois era deles que vinha a água que provinha a subsistência do local. E com São Bernardo, não foi diferente.
Desde os tempos de João Ramalho e de sua histórica vila, embrião da cidade que conhecemos hoje, estes cursos d´agua eram procurados para dar suporte aos povoados que iam surgindo. Até hoje, não se sabe a localização exata da vila, mas em todos os locais cogitados, a maioria deles por Teodoro Sampaio e por Affonso de Taunay, a vila se encontrava perto de um destes cursos. Guapituba, Meninos, Carapetuba. Ao longo destes, muito provavelmente, estava a vila que deu origem à todas as cidades do ABC e à capital.
O Guapituba, está em Mauá, é um dos tributários do Rio Tamanduateí, que nasce na mesma cidade, e corre entre as largas pistas da Avenida dos Estados. (em S.Paulo, o nome muda para Av.Francisco Mesquita e para Rua São Raimundo antes de tomar o nome de Avenida do Estado).
Já o Ribeirão dos Meninos, que segundo alguns teve o seu nome trocado, nasce nas proximidades do Jardim Silvina, passa pelas margens da Via Anchieta, até entrar embaixo da Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Centro. Ali, ele corre “soterrado”, passando por baixo do Paço Municipal, pela Avenida Aldino Pinotti, de construção recente, até encontrar o Córrego Taioca. Daí em diante, este, que é o curso d´agua que deu origem à São Bernardo faz a divisa da cidade com Santo André e São Caetano, até desaguar no Rio Tamanduateí, nos limites de São Caetano com São Paulo. Ali, os monges beneditinos estabeleceram olarias, que foram a base da economia de São Caetano por longos anos. O mesmo rio, teve o seu vale usado para a abertura do Caminho do Mar, e posteriormente da velha Estrada do Vergueiro, além de também ter dado origem ao Bairro dos Meninos, posteriormente chamado de Rudge Ramos.
O Carapetuba, está no meio da Avenida Ramiro Colleoni (continuação da Avenida Pereira Barreto) na atual Santo André. É o rio que faz uma curva (subterrânea) em frente ao Shopping ABC, debaixo do corredor de tróleibus.
Já o Ribeirão dos Couros, nasce no Bairro Assunção, e corre pelo meio da Avenida Robert Kennedy. Depois do cruzamento com a Avenida Piraporinha, ele faz as divisas de São Bernardo com Diadema e com o Município de São Paulo, passando pelos bairros Jordanópolis, Paulicéia, e Taboão, até desaguar no Ribeirão dos Meninos, na tríplice divisa entre S.Bernardo, S.Caetano e São Paulo. É ele que provoca as enchentes nas pistas da Via Anchieta, e na fábrica da Mercedes Benz do Brasil, fechado em canaletas de concreto, e totalmente assoreado, uma chuva de verão é o suficiente para que o rio devolva à cidade o que a cidade faz com ele.
Temos também o Córrego Saracantan. Imagina onde ele se encontra? Ele nasce nos morros da atual Vila São Pedro, corre por galerias, e entra pelo meio da Avenida Pery Ronchetti, desembocando no Ribeirão dos Meninos debaixo do Paço Municipal. E Depois tem gente que não sabe porque o Centro da cidade inunda!
Temos também os rios Pequeno e Grande, que hoje são represados e formam a Represa Billings, mas que já foram rios no mais absoluto sentido da palavra. A Inundação causada pelo represamento deles, “freou” (ainda bem) o avanço do município em direção à Serra do Mar. O que ainda hoje se entende como Zona Rural de São Bernardo do Campo, só existe graças à barreira imposta pela represa a mancha urbana da cidade.
A Verdade, é que praticamente todos os rios, córregos, ribeirões e demais cursos d´agua da cidade, foram totalmente encurralados, ou simplesmente “escondidos”. Debaixo de avenidas como a Faria Lima, jaz um verdadeiro esgoto fétido, com suas galerias tomadas por sofás, pneus, e lixo de toda a sorte. Quando a prefeitura diz que fará obras no córrego “fulano”, a primeira pergunta de um cidadão que lê a notícia é “mas aonde fica esse córrego?” e o córrego pode passar no bairro em que este cidadão vive...
Taioca, Chrysler, Meninos, Couros, Pindorama, Capivari, Saracantan, Água Mineral, Borda do Campo, Araçatuba, Guapiú (nome anterior ao Bairro dos Meninos, que designava o atual Rudge Ramos, está canalizado sob a Avenida Bispo César Dacorso Filho), Canhema, Camargo, Feita, Jurubatuba, Ourives, Taboão, Lima, Palmeiras... Que seja feita justiça à memória deles, que ontem deram origem a cidade, e hoje, estão poluídos, debaixo de lajes, escondidos da população.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
O Brasão da discórdia
Imagem: Brasão de armas de São Bernardo do Campo
O Brasão de armas do Município de São Bernardo, foi criado em 1920, pelo célebre historiador e heraldista Affonso D´Escragnole Taunay, que criou as armas de várias cidades Paulistas, principalmente das mais relevantes em termos históricos. No Brasão, vemos representada a síntese da história do município, elementos como a Cruz de Santo André, representando a povoação de Santo André da Borda do Campo. Acima da cruz de Santo André, a cruz patriarcal de São Bernardo representa o futuro, o que S.André da Borda do Campo se tornou depois de muito tempo.
No quadro seguinte, vemos representado o “Leão dos Ramalhos”, em alusão ao fundador, João Ramalho. “Defendendo” o brasão, um Bandeirante, representando Ramalho, o “Patriarca dos Bandeirantes” e um índio, representando Tibiriçá, sobro de João Ramalho e senhor da nação dos Guaianazes, que teve um trabalho decisivo no apoio e na consolidação não só de Santo André da Borda do Campo, como na consolidação da própria capital, onde ele e seu povo lutaram bravamente ao lado dos portugueses contra nações hostis.
Além destes elementos, na parte superior do brasão, ainda temos um pequeno escudo azul, com uma flor de lis branca, representando Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem, padroeira de São Bernardo. E Na parte superior da “coroa” prateada, que representa um município, temos o elmo que distingue a família de Martim Afonso de Souza, fundador de São Vicente. Deste, partiu a ordem para oficializar a Vila de S.André da Borda do Campo em 1553.
Na base do brasão, o lema: “PAVLISTARVM TERRA MATER”, ou “Terra-Mãe dos Paulistas”, que recorda a missão inicial de Santo André da Borda do Campo, e sua importância na povoação do planalto brasileiro e paulista, terra mãe do estado e do povo de São Paulo, da interiorização, e das origens da própria capital do estado.
A Primeira lei que oficializa o Brasão, é de 20 de Dezembro de 1926, assinada pelo polêmico Saladino Cardoso Franco, e desde então, este símbolo representa a história e as tradições de São Bernardo.
Mas, em 1938, com o rebaixamento de São Bernardo da categoria de município, e com todo o território sendo renomeado para “Santo André”, o que ocorreu foi um verdadeiro descalabro: A Nova municipalidade mutilou o brasão original, e dele excluiu todos os elementos que representavam São Bernardo, associando o brasão à Santo André, e se apropriando deste.
Em 1944, São Bernardo teve a sua autonomia restaurada, e consequentemente, o brasão original retorna para o seu “proprietário”, com todos os seus elementos originais restaurados. E mesmo com a restauração de São Bernardo, Santo André, agora como município independente, continuou usando o brasão São-Bernardense mutilado propositalmente para representar a sua cidade, em uma tentativa clara de associar a sua história recente à histórica Santo André da Borda do Campo. Taunay, entendia que São Bernardo era a “herdeira” da povoação fundada por João Ramalho, e por isso criou o brasão. Santo André, nasceu por conta da estação ferroviária, como já dissemos aqui em outras oportunidades, e o seu nome apenas homenageia a vila de João Ramalho.
São Bernardo do Campo, também usava como timbre em papéis da municipalidade, um “selo” municipal, representado apenas por um escudo com a cruz de Santo André encimada pela cruz de São Bernardo, e com a listra com o lema municipal na base deste selo. Este selo aliás, pode ser encontrado no piso de mosaico português, que está na entrada da Igreja Matriz, e na própria torre da igreja, em alto relevo.
Esta discórdia em relação ao dístico das duas cidades continuou por muito tempo, até que em 1972, o Município de Santo André troca de bandeira e de brasão, adotando novos símbolos, criados por Octaviano Gaiarsa, com o brasão inspirado no selo que o Município de São Bernardo do Campo utilizava em seus documentos oficiais. Á partir deste momento, São Bernardo abandona o seu selo municipal, e Santo André desassocia os seus símbolos municipais dos de São Bernardo.
Exemplos do brasão de São Bernardo “mutilado”, que foi usado por Santo André por longos anos, podem ser vistos até mesmo na obra de Gaiarsa “A Cidade que dormiu três séculos”, e em diversas placas de inauguração, com a do próprio Paço Municipal Andreense, e da Fundação Santo André.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Cinco Encruzilhadas
Foto: Capela de Bom Jesus de Piraporinha, ou da Pedra Fria, criminosamente demolida nos anos 60 - Foto dos anos 30.
Alguém aí já ouviu falar das “Cinco Encruzilhadas”? Este, é mais um dos inúmeros nomes que se perderam com a evolução da cidade de São Bernardo do Campo, e com a criação de loteamentos por empresas imobiliárias, principalmente ao longo dos anos 50.
Em fins do Século XVIII, época das bandeiras de exploração, os Bandeirantes criam na rota entre São Bernardo e Santo Amaro, um pouso chamado de “Piraporinha”. Este nome, já é bem conhecido de todos nós, São-Bernardenses, e principalmente dos Diademenses. Alguém pode perguntar: Mas Piraporinha não fica em Diadema? Hoje sim, mas antigamente não.
Piraporinha estava em uma imensa gleba de terras que pertencia à Família Pedroso, uma das mais antigas da região, de origem portuguesa, e que estava estabelecida na região desde 1769, como alguns documentos indicam. As Terras da Família Pedroso, iam desde o atual Largo de Piraporinha até onde hoje está a Vila São José, em Diadema.
Com o desenvolvimento populacional da região, José Pedroso de Oliveira, com o auxílio da população do lugarejo, ergue a Capela de Bom Jesus da Pedra Fria, para o local, afluíam romeiros de diversas partes em épocas de festa e nos dias santos, o que levou a uma expansão do lugarejo, e a um aumento das dependências da modesta capela.
Em 1881, o mesmo Pedroso, doou as terras do entorno da capela à Cúria Metropolitana de São Paulo, o que na prática levou o lugar a uma emancipação de Piraporinha, pois se antes as terras eram particulares, agora elas eram abertas à todos que afluíam para o vilarejo. Em 1887, cria-se o núcleo de imigração de São Bernardo. Rasgam-se as “linhas coloniais”, que eram na prática estradas que serviam de base para a demarcação dos lotes rurais dos imigrantes, em sua maioria, Italianos. Desta forma, o largo onde estava a capela, transforma-se em um entroncamento, de cinco caminhos, e daí aparece o nome “Cinco Encruzilhadas”. Um destes caminhos, era justamente a Linha Jurubatuba, linha colonial, hoje representada pela Avenida Jurubatuba em Diadema, e pela Avenida Humberto de Alencar Castelo Branco, em São Bernardo.
O Entroncamento destes caminhos ao redor da capela, transforma Piraporinha em um lugarejo procurado pelo comércio estabelecido, comércio modesto, baseado em armazéns que forneciam gêneros de primeira necessidade aos imigrantes e demais habitantes, que sofriam com a precariedade dos caminhos que levavam ao núcleo central de São Bernardo, atual Centro.
Nos anos 40, com a criação do Distrito de Diadema, dentro do Município de São Bernardo do Campo (que teve a sua autonomia restaurada em 1944), a Vila Piraporinha, que era e é um dos mais antigos bairros de São Bernardo, passa a integrar o novo distrito.
Já nos anos 50, Piraporinha passa a concentrar indústrias, iniciando a segunda principal vocação do lugar, a primeira, era o comércio, que ainda nos anos 50 fazia do lugar o principal entreposto comercial do Distrito de Diadema, e um dos mais importantes do Município de São Bernardo do Campo.
Também nos anos 50, um grupo de habitantes de Vila Conceição, atual centro de Diadema, inicia um movimento liderado por Evandro Caiaffa Esquivel, e que contava com o apoio de Miguel Reale, advogado que fazia parte da comissão que tratava das emancipações no Estado de São Paulo, com o objetivo de desmembrar Diadema do Município de São Bernardo do Campo. A Justificativa era o descaso de São Bernardo para com o seu distrito. Em São Bernardo, o movimento encontrava forte oposição, e em Diadema também, pois muitos de seus habitantes acreditavam que o novo município só perderia, pois São Bernardo do Campo estava em franca expansão graças à abertura da Via Anchieta e a instalação de diversas indústrias, o que segundo estes moradores acabaria beneficiando o distrito.
Em uma eleição apertada, Diadema torna-se Município em 1959, e São Bernardo perde Piraporinha, um de seus bairros mais antigos, e uma de suas “células-mater”.
Em 29 de Julho de 1968, em um verdadeiro crime contra o patrimônio histórico do ABC, cai a histórica capela de Bom Jesus da Pedra Fria, em seu lugar, ergue-se uma grande, mas feiosa igreja, cercada pelo movimento frenético do atual Largo Bom Jesus de Piraporinha.
Portanto, injustamente, Diadema abriga hoje um dos mais antigos bairros de São Bernardo. Coisas da política.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
São Bernardo nas ondas do rádio
Foto: Estúdios da Rádio São Paulo, em 1956. Fotos das rádios do ABC neste tempo, são raras.
Você, habitante de São Bernardo do Campo, faça um teste: Ligue o seu rádio, em FM ou AM, e tente sintonizar uma rádio da cidade. (só valem as “oficiais”)
Ou melhor, busque em sua memória uma rádio oficial de nossa região, você só encontrará em 1570 AM a Rádio ABC de Santo André, pois no resto das freqüências, sintonizamos única e exclusivamente as rádios da Capital Paulista. Parece democrático? Não, lógico que não. Mas nem sempre foi assim.
Nos áureos tempos do rádio, tempos em que a televisão ainda era um artigo de luxo, cada cidade do ABC tinha a sua própria emissora: Em São Caetano, a Rádio Cacique. Em Santo André: Duas emissoras! ABC e Rádio Clube de Santo André. Mas a São Bernardo do Campo, coube o pioneirismo no rádio.
Em 1957, é inaugurada oficialmente a Rádio Independência de São Bernardo do Campo, com o prefixo ZYW-5, prefixo que antes pertencia a uma emissora da cidade Paulista de Capivari. Foi a primeira emissora de nossa região, e com ela e suas parceiras regionais, uma nova geração de renomados radialistas surge em nossa região.
Pela emissora São-Bernardense, a população podia escutar as transmissões esportivas capitaneadas por Rolando Marques (1943-1994), o maior locutor do gênero em nossa região, “A Voz do Grande ABC”. Também existiam as rádionovelas, muito populares antes da “explosão” da televisão no país. As Novelas da Rádio Independência tinham tamanha qualidade, que os criadores das histórias logo seriam cobiçados pelas grandes emissoras da Capital.
Artistas como Adoniran Barbosa, Jerry Adriani, e muitos outros, pisaram nos estúdios da Independência, e do Grande ABC, mais precisamente da Rádio Cacique de São Caetano do Sul, saiu Luiz Lombardi, a famosa voz que é um ícone dos programas de Sílvio Santos até os dias atuais.
Programas como o “Grande Teatro de Emoções”, que popularizou o gênero do “Rádio Teatro”, com peças incríveis escritas por Guido Fidélis e Oswaldo Russi, que mais tarde emprestariam os seus respectivos talentos à Rádio São Paulo. Já pela Rádio ABC de Santo André, ía ao ar aos Sábados, o “Grande Teatro Philips”, com textos de Alves Cabral e Edson Lazari. No fim dos anos 60, as telenovelas colocam fim a “era de ouro” dos “grandes teatros” e das rádionovelas.
O Jornalismo e as grandes coberturas também faziam parte da programação da emissora de São Bernardo do Campo. As Três rádios da região, se juntaram por diversas vezes nos anos 60, formando uma cadeia regional, para transmitir os carnavais das três cidades do ABC, com transmissões feitas diretamente das ruas e dos clubes, onde o povo se divertia na festa de momo.
Isso sem falar na política e na crítica mordaz, muitas vezes anonimamente assinada. Ademir Médici, transcreve para a sua coluna “memória” do Diário do Grande ABC uma delas, que bem relata a situação política de 1958. Assinada por “Cacareco”, nome de um célebre rinoceronte do Zoológico de São Paulo, que fez fama nas eleições, recebendo mais votos do que a grande maioria dos candidatos “oficiais”, o texto diz: “Diadema não pode emancipar-se, de jeito nenhum, porque... já imaginaram se a febre pega também em Rudge Ramos? Valha-me Deus. Arrepio-me só em pensar em tal coisa. Não. Vamos à luta. Um por todos e todos por mim. Vamos falar, gritar, brigar, mendigar o NÃO, pois tenho certeza que os meus cabos eleitorais são capazes, eficientes, são reconhecidos como salvadores das penúrias do povo. Diadema já é nossa, estão esclarecidos que devem ficar com São Bernardo, principalmente agora que falta apenas um ano para eleger-se novo prefeito da cidade." . E Como o próprio Médici conclui: Diadema emancipou-se, tornou-se cidade em uma manobra estranha que comentaremos em outra oportunidade, Rudge Ramos tentou iniciar um movimento semelhante, que não prosperou, e Lauro Gomes elege-se prefeito.
Mais tarde, Edson Danilo Dotto (1934-1997), um dos fundadores do Diário do Grande ABC, inicia a formação de uma cadeia regional de rádio, de propriedade do jornal, convertendo a Rádio Independência de São Bernardo em “Rádio Diário do Grande ABC”. Os potentes transmissores, localizados na altura do Km 17 da Via Anchieta (atrás da Escola Jean Piaget) passam a ser a voz do Grande ABC diante das emissoras da Capital. Mais tarde, bem mais tarde, surge a Diário do Grande ABC FM.
Em 1992, a Diário AM (ex Independência) é vendida a um grupo evangélico. E já por volta de 2001, seus transmissores foram desmontados, e a rádio foi transferida para a Capital. A Diário FM, que ficou famosa graças a transmissão de música considerada “erudita”, mas não clássica, tornou-se Scala FM, foi vendida, e recentemente retornou em outras mãos. A Rádio Clube de Santo André, virou Rádio Trianon, e também foi transferida para a Capital. E a Rádio Cacique de São Caetano, foi transferida para a Legião da Boa Vontade, e também fez as malas rumo a São Paulo. Seus transmissores foram incorporados à Rádio Eldorado AM (estão na Avenida Guido Aliberti, perto do Instituto Mauá) que antes transmitia do Alto da Serra, em São Bernardo, na Estrada Velha de Santos.
A Única que resiste, é a Rádio ABC, que está na Avenida Pereira Barreto, em Santo André. Aos “trancos e barrancos”, ela defende bravamente a mídia radiofônica de nossa região, que antes era tão rica, e agora, é tão massificada pelas rádios da Capital.
Por fim, o ABC também participou, e com louros, da “era de ouro do rádio”.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Série SBC 456 – O Que comemoramos em 20 de Agosto?
Geralmente, comemoramos um aniversário na data de nascimento de uma pessoa, ou na data de fundação de uma localidade. Assim sendo, a maioria acredita que em 20 de Agosto de 1553, João Ramalho teria fundado São Bernardo do Campo, e aí está a cidade que foi evoluindo ao longo destes 456 anos e se tornou o que conhecemos hoje. Não é a verdade! Ou melhor, não é correta a afirmação.
Em 1717, por meio da reunião de várias fazendas doadas por fiéis, o Mosteiro de São Bento, de São Paulo, funda duas fazendas na região: São Bernardo e São Caetano. Na Primeira, os beneditinos dedicam-se a agricultura, pois as terras da fazenda mostravam-se próprias para este uso. Já na segunda, os beneditinos passam a produzir artefatos cerâmicos, já que a Fazenda de São Caetano localizava-se no encontro de dois rios (Meninos e Tamanduateí), o solo mostrava-se argiloso, e a argila era de excelente qualidade para a manufatura de telhas e tijolos. Na Fazenda de São Bernardo, ergue-se uma capela, com evocação de São Bernardo de Claraval, monge cisterciense, grande propagador da igreja e da ordem. A Figura deste santo foi e é intimamente ligada à História de Portugal, e ao próprio processo de independência dos Lusos.
Em torno desta capela, o mosteiro ergue a casa-grande da fazenda. Até hoje, especula-se que o local exato da sede, estava em algum ponto da margem do Ribeirão dos Meninos. Ou na confluência atual da Avenida Doutor Rudge Ramos com a Estrada das Lágrimas, ou, o mais provável, no entroncamento da Avenida Senador Vergueiro com a Avenida Kennedy, onde está o Carrefour Vergueiro.
Foi canonizado em 18 de junho de 1174 por Alexandre III e declarado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830. É comemorado no dia 20 de agosto.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Frase no DGABC - Fim de 1978
Júlio Boszczuk, polonês, 75 anos, pipoqueiro da praça Lauro Gomes, em São Bernardo.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
O Quase secular futebol de São Bernardo
Foto: Equipe do E.C.São Bernardo - Anos 60 - No velho Estádio Ítalo Setti
Em praticamente 20 anos de residência
E este é o caso de nosso futebol.
Podemos afirmar que o futebol no Brasil nasceu
Mas o futebol chegou aos principais núcleos urbanos do velho município, creio eu, por meio da influência da própria Capital, nos anos 10, quando aqui proliferavam equipes, principalmente
Mas, as duas equipes, que nasceram do futebol de várzea de São Bernardo, tiveram vida efêmera, e já não mais existiam na metade da década de
Aqui, organizava-se uma boa competição. O Clássico dos “de cima” contra os “de baixo”. Alguns afirmam que os “de cima” eram os moradores da atual Rua João Pessoa, e de todas as outras que estavam “para o lado de cima” da Igreja Matriz. Desta forma, os “de baixo” eram os que habitavam a porção da vila que estava logo abaixo da igreja, nas Ruas Padre Lustoza, Rio Branco (em suas porções inferiores) etc.
Outros afirmam que “os de cima” eram os que habitavam a Rua Marechal Deodoro em sua porção “acima” da Igreja Matriz, no sentido do atual Ferrazópolis. E que “os de baixo” eram os que habitavam a porção inferior da rua em relação a igreja, a porção que ficava em direção ao atual Paço Municipal. Seja lá como for, esta era uma divisão criada apenas para existir a formação de times completos, que pudessem se enfrentar, e não uma divisão motivada pela rivalidade ou por outras questões. E era assim que o futebol da cidade ía vivendo.
Certo dia, ao observar uma dessas partidas, Dante Setti imagina a criação de uma única equipe, que pudesse representar a “sua São Bernardo” nos gramados. Um clube “grande”, e que mobilizasse toda a torcida em torno de um único representante. E Juntamente com Vicente Ragghianti e Itagiba de Almeida, a idéia é levada a frente, e em 3 de Fevereiro de 1928, no Cine São Bernardo, realiza-se uma assembléia que objetivava a fundação de uma nova agremiação. A Platéia se divide entre antigos torcedores do Internacional e da Associação Atlética, que sugerem vários e vários nomes, até que vem a proposta mais coerente: Se é para representar a cidade, o time teria que se chamar São Bernardo! E assim foi! Em 3 de Fevereiro de 1928, funda-se o “Sport Club São Bernardo”, com o negro e o branco em seus uniformes.
Nascia então uma grande equipe, grande e vencedora. O São Bernardo defendeu o orgulho dos moradores da velha “Villa”, transformando-se em uma equipe imbatível, odiada por Sancaetanenses e Andreenses, que depreciavam a vila por seus aspecto rural, que contrastava com a paisagem urbana dos dois distritos, mas que no futebol, nada conseguiam contra os “batateiros” de São Bernardo.
O “Reinado absoluto” do São Bernardo como a única agremiação da cidade, como sonhava Dante Setti, durou até 1935. Em 1935, Alfredo Sabatini, filho de Samuel Sabatini (dono de um armazém) e que era jogador do São Bernardo, foi preterido de um jogo da equipe fora da cidade, sem aviso prévio, o que provocou revolta em Alfredo e em seu pai, que resolveram fundar uma nova agremiação para “bater neles”. “Neles” era o São Bernardo.
Desta forma, nasce em 1º de Setembro de 1935 o Palestra Itália de São Bernardo. O Palestra tinha a pretensão de ser uma “pedra no sapato” do São Bernardo, mas nunca conseguiu esse feito, a rivalidade, que era até grande, não se difundia muito, pois na pequena cidade de então, todos se conheciam, e muitos jogavam pelas duas equipes. Assim, a rivalidade geralmente durava 90 minutos, e depois deles, geralmente quem comemorava era o São Bernardo. Historicamente, a vantagem alvinegra nos clássicos é imensa, e no entanto, isso nunca provocou o desdém dos torcedores do São Bernardo, ou do “Sport”. Cria-se
Nos anos 40, Getúlio Vargas obriga a nacionalização de todas as instituições estrangeiras, e os clubes que representavam colônias, tiveram que acatar a nova lei. Assim o Palestra Itália da Capital virou Palmeiras. O Hespanha de Santos virou Jabaquara, o Germânia da Capital virou Pinheiros, e o Palestra Itália de São Bernardo... Tirou o Itália e continuou Palestra! Obviamente isso ocorreu pela pequena projeção que a equipe de São Bernardo possuía, mas é bom lembrar que os dirigentes do alviverde procuraram o temido DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Vargas, preocupados com a nova lei, e receberam sinal verde para prosseguir com o nome Palestra, coisa que o “primo rico” da Capital não conseguiu.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Um Trem Passou por aqui...
Foto: Planta do Nova Petrópolis (Clique para ampliar) com as linhas de bonde.
1921: A Saturação dos bairros operários da Capital Paulista, acelera o crescimento do antigo Município de São Bernardo, cortado pela São Paulo Railway, e com grandes terrenos (baratos se comparados aos da Capital) a disposição. Fator que atraiu um sem número de indústrias, principalmente para os Distritos de Santo André e São Caetano, atravessados pela linha férrea, e mais próximos a Capital.
Estes dois distritos já contavam na época com uma grande população, e movimentavam praticamente 86% da economia do Município de São Bernardo. A Vila de São Bernardo (atual S.Bernardo do Campo) ás margens do esquecido Caminho do Mar, assim como a estrada, caiu no esquecimento, e continuava concentrando apenas uma boa parcela de produtores rurais, a indústria moveleira, que já era forte na época, e apenas alguns estabelecimentos fabris. Praticamente nada se comparado aos dois bairros que na época eram os “primos ricos”.
Com as grandes indústrias, forma-se uma classe operária poderosa na região (numericamente poderosa, não financeiramente) que padece com os problemas de infra-estrutura, mal administrados pelo governo municipal. A Falta de saneamento, de calçamento, de redes para distribuição de água, além de outros itens, abre espaço para a especulação imobiliária também no campo residencial, o que dá início a formação de vários loteamentos pelo vasto território (806Km2) do velho município.
Neste ano, os irmãos Hippolyto Gustavo Pujol e Ernesto Pujol, que já eram proprietários de terras na região, formam uma empresa com sede na Praça da Sé, na Capital Paulista: A EISB – Empreza (grafia da época) Imobiliária de São Bernardo, que conforme a tendência da época, inicia a formação de loteamentos baseados no conceito de “cidade jardim”. O Primeiro empreendimento começa por uma área de 6 milhões de metros quadrados, entre a Estação de São Bernardo (Santo André) e São Caetano. Nesta área, são formados os loteamentos dos atuais bairros Industrial, Operário, Jardim, Campestre, Santa Maria, Saúde, e Utinga. Todos com destinos bem específicos.
Jardim, Campestre e Utinga, eram destinados a moradias para a classe mais alta da população. Operário, Santa Maria e Saúde – para a moradia mais popular, formada pela própria classe operária. E Industrial, que margeava a ferrovia (Avenida Industrial) para empreendimentos industriais. Todos estes bairros alcançaram desenvolvimento formidável, e estão entre os melhores bairros de Santo André e São Caetano até hoje.
Mas a Vila de São Bernardo também recebeu o seu loteamento em 1925. Em uma área de 3 Milhões de metros quadrados, nasce o Nova Petrópolis, que assim como o Bairro Jardim, também era destinada a uma classe mais alta. O Nova Petrópolis ocupou uma bela colina que se localizava “atrás” do atual Centro de São Bernardo do Campo. Ruas largas e calçadas, redes de esgotos, redes de água, tudo pronto no loteamento, que também era inovador em termos comerciais, pois seus lotes eram vendidos diretamente aos interessados.
Além disso, a EISB também oferecia o seu próprio sistema de transportes, entre os loteamentos que constituíra, ligando estes ás estações ferroviárias de São Caetano e São Bernardo. Era uma pequena ferrovia, um sistema de linhas de bondes, operados por bondes a gasolina da marca Renault, e que contava também com uma pequena locomotiva a vapor, que só era utilizada na Vila de São Bernardo.
Existia uma linha que ligava a Estação São Bernardo e a Estação São Caetano, passando pelos bairros constituídos pela EISB, passando pela atual Avenida D.Pedro II
Já na atual São Bernardo do Campo, a linha férrea fazia o percurso aproximado da atual Avenida Pereira Barreto. O Traçado aproveitava os vales do Rio dos Meninos e do Córrego Taioca antes de percorrer a grande elevação da avenida após a atual divisa com Santo André, alcançando a estação ferroviária.
A Linha também contava com uma pequeno ramal que atendia a Fábrica de Móveis Pelosini. E era para este serviço que a EISB usava sua pequena locomotiva a vapor, uma legítima “Maria-fumaça” em miniatura, que por vezes rebocava o bonde com destino a Santo André. Em
Em 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque, e com o declínio da economia cafeeira, a EISB fecha as portas e encerra as suas atividades. O Transporte é paralisado, e posteriormente os trilhos são arrancados da Rua Marechal Deodoro e de toda a cidade. Para substituir o velho bonde, começam a surgir empresas de ônibus que fazem a ligação entre S.Bernardo e Santo André, pioneiras das atuais empresas que ainda fazem o mesmo trajeto, agora em ônibus modernos, de última geração.
Praticamente 80 anos depois, se cogita uma espécie de bonde moderno (o VLT) para ligar São Bernardo a Estação de São Caetano, e revive-se o velho bondinho. Sinal dos tempos! Será que sai ou fica só na promessa?
Aguardaremos.
Bibliografia e imagens: SPR – Memórias de Uma Inglesa – Moysés Lavander Junior e Paulo Augusto Mendes.
domingo, 26 de julho de 2009
DER – Uma favela no coração da cidade
Quem é de São Bernardo, certamente já ouviu falar ou já esteve, ou até mora no chamado “DER” ou “favela do DER”. Como a palavra “favela” se tornou ofensiva, vou procurar restringir o uso dela neste texto.
Para quem passa pela Via Anchieta, e não tem contato com a cidade, o DER é o conjunto de casas humildes que pode ser avistado do lado esquerdo da pista, no sentido de quem vem da Capital e segue em direção a Santos.
Por dentro da cidade, o DER margeia todo o Centro, desde o Estádio Primeiro de Maio, até a Rua Newton Prado. Mas aí surge a pergunta: Como deixaram isso acontecer em pleno centro de São Bernardo do Campo?
A Resposta é histórica! Voltemos a década de 1930. Durante o início dela, já se discutia fervorosamente a idéia da construção de uma nova via entre São Paulo e Santos, pois o antigo Caminho do Mar, pavimentado em seu trecho de serra em 1922, já não suportava o tráfego pesado. Além disso, era sinuoso e perigoso, em seu trajeto antigo, “dependurado” na encosta da serra do mar. Em 1940, começam as obras de uma rodovia que iria se tornar um marco da engenharia brasileira, e um divisor de águas na história de São Bernardo do Campo: A Via Anchieta. Partindo do Ipiranga, em pista dupla, ela atravessava suavemente o planalto, e rasgava a serra do mar com curvas consideradas na época extremamente suaves. Além disso, o seu trecho serrano tinha um aclive/declive muito suave se comparado ao do Caminho do Mar, uma verdadeira pirambeira!
Para construir a rodovia, um verdadeiro exército de trabalhadores foi mobilizado pelo Governo do Estado de São Paulo, trabalhadores vindos de todas as partes construíam estradas de serviço que se tornaram avenidas da cidade, e rasgavam a nova via que escoaria o produto de São Paulo rumo ao porto. Travava-se aqui uma epopéia semelhante a da construção da São Paulo Railway no século XIX.
Como a obra exigia atenção durante 24 horas, acampamentos foram construídos para os funcionários, e um dele, no atual km 20 da rodovia – o acampamento do DER. Porque DER? DER é a sigla do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo. Neste acampamento, em casas de madeira, algumas com quartos “comuns” ou coletivos, e em outras menos modestas, estes operários vindos de vários pontos do país encontraram a sua morada durante as obras da nova rodovia. Na época, o centro de São Bernardo ainda não tinha chegado até as proximidades do acampamento, e ficava restrito ao entorno da Praça da Matriz.
Em 1947, é inaugurado o trecho de planalto da Via Anchieta, entre o Ipiranga (Sacoman) e o Alto da Serra. A Descida da serra era feita em mão dupla. A segunda pista, como já citei em outro texto, seria inaugurada apenas em 1953.
Com a inauguração da rodovia, o Departamento de Estradas de Rodagem só esqueceu de uma coisa: Providenciar um destino para os operários. Sendo assim, a maioria optou por viver ali mesmo, no acampamento. Alguns voltaram. E os que ficaram trouxeram ou constituíram as suas famílias. Durante os anos 60, o local vive a sua primeira expansão, assim como a própria cidade, que já crescia vertiginosamente. Nos anos 70, um verdadeiro “boom”. Neste período, e durante os anos
Nos anos 70 e 80, as casas (alojamentos) do antigo acampamento, já estão em condições precárias, e totalmente cercados por outras habitações, casas de gente humilde, construídas sem o mínimo de planejamento urbano, e que configuraram um dos maiores problemas de habitação da cidade neste período (ao mesmo tempo, os morros verdes que cercavam a cidade também são dominados pelas favelas, conseqüência do “sonho” provocado pela expansão da indústria automobilística, que com a crise dos anos 80, fez muita gente comer o pão que o diabo amassou
No fim dos anos 70, Centro e DER já estão “colados” um ao outro. Nos anos
Hoje, a violência já não marca mais o DER, que de um “bico” do Centro encravado ás margens da Via Anchieta, passou a ser atravessado por vias importantes e a ter acessos a outros pontos da cidade. No entanto, sua população ainda aguarda soluções por parte da prefeitura em matéria de educação, transporte coletivo, habitação e saúde pública.
O DER, foi a primeira favela de São Bernardo do Campo, e surgiu por um mero acaso, se expandiu desordenadamente como grande parte da cidade, e hoje espera por soluções que ponham fim a triste sina do lugar. Que dias melhores venham para a comunidade!
sexta-feira, 24 de julho de 2009
70 Anos de "jornalecos"
* Hoje não tem foto!
Na década de 1930, os jornais se tornam um veículo de informação com uma abrangência mais popular, e ganham as pequenas cidades, depois de já terem há muito ganho as grandes. A Circulação dos jornais é que era diferente: Nestes tempos, era semanal (o mais comum em nossa região), quinzenal, ou até mesmo mensal.
Com a popularização das tipografias, jornais pululavam até mesmo
Na Época, ainda não era muito ventilada a idéia de “liberdade de imprensa” ou de “imprensa parcial” (conceito bastante discutível – inexistente aliás). Certas correntes da sociedade viam nos jornais uma oportunidade de propagar as suas idéias, lutas, reivindicações, e claro, os seus candidatos.
Com exceção feita aos grandes jornais, que já circulavam na época, a imprensa era literalmente “marrom”, e trabalhava em benefício de alguém, geralmente um político ou um partido. Assim foi com vários periódicos que circularam pela nossa região, cito: “O Imparcial”, “O São Bernardo” (depois “O Santo André”), “Borda do Campo”, entre outros. Nessa velha São Bernardo, a política se dividia em duas frentes: Flaquistas, ou seja, adeptos dos familiares do velho “coronel” Fláquer – E os “outros”. Os outros, eram os que tinham predileção pela corrente política oposta a dos Fláquer, esta, variava conforme a época. Em determinado período, ainda existiram os comunistas (que elegeram Armando Mazzo como prefeito de São Bernardo pelo PCB – Mazzo ganhou, mas foi cassado, nunca assumiu, e foi o único prefeito eleito pelo PCB) e os integralistas, militantes de extrema direita, seguidores da “sigma” de Plínio Salgado e de um movimento com fortes inspirações fascistas. Estes dois últimos travavam batalhas nas ruas dos distritos de São Bernardo de forma corriqueira. Quando acontecia, socos, pauladas e cacetadas sobravam para quem estivesse no meio.
Era comum então, os Fláquer dominarem um ou mais jornais, e os opositores, algum outro. Enquanto uma corrente dominava a política da região, seu periódico distribuía elogios e gentilezas à administração pública – geralmente usando palavras como “progresso”, “labor”, “valor”, “virtudes” e outras mais – um puxa-saquismo enfadonho.
Já a outra corrente, a opositora, criticava ferrenhamente a administração, e não poupava ninguém! Para os opositores, São Bernardo vivia em uma espécie de idade média – Tudo por aqui se resumia em trevas, obscuridade, atraso, corrupção, etc. E assim se fazia o revezamento, conforme a corrente dominante.
Algumas brigas se tornaram famosas, e célebres. Como a briga que se travou entre o periódico editado
Com a atuação do DIP, os “jornalecos” do ABC caíram no esquecimento, comunistas e integralistas foram colocados na ilegalidade, e esse regime praticamente ditatorial colocou uma mordaça em nossa imprensa regional. Se por um lado a atitude trouxe paz ao ABC de outrora, ela também tirou o costume de se envolver em política que existia na região. A Política era discutida em todos os ambientes, e como a ditadura (silenciosa) imperava, e um único regime/partido vigorava, não havia mais o que se discutir.
Mesmo assim, muitos “caciques” da região continuaram desfrutando de poder, afinal, essa manobra é conhecida: Torne-se amigo do ditador, leve o seu apoio e o apoio de seus correligionários que ele certamente te dará “benefícios”. Entendeu? Claro que entendeu!
Dos anos 30/40 até hoje, já se vão mais de 70 anos. E Hoje, ao circular pelo meu bairro, consigo um “exemplar gratuito” de dois periódicos que circulam
Realmente. A Nossa mídia não mudou nada em 70 anos.
* Antigamente a população sabia a quem os “jornalecos” serviam, mas hoje... Acredita em qualquer coisa... Seja de que lado ela venha.