segunda-feira, 27 de julho de 2009

Um Trem Passou por aqui...

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Foto: Planta do Nova Petrópolis (Clique para ampliar) com as linhas de bonde.


1921: A Saturação dos bairros operários da Capital Paulista, acelera o crescimento do antigo Município de São Bernardo, cortado pela São Paulo Railway, e com grandes terrenos (baratos se comparados aos da Capital) a disposição. Fator que atraiu um sem número de indústrias, principalmente para os Distritos de Santo André e São Caetano, atravessados pela linha férrea, e mais próximos a Capital.



Estes dois distritos já contavam na época com uma grande população, e movimentavam praticamente 86% da economia do Município de São Bernardo. A Vila de São Bernardo (atual S.Bernardo do Campo) ás margens do esquecido Caminho do Mar, assim como a estrada, caiu no esquecimento, e continuava concentrando apenas uma boa parcela de produtores rurais, a indústria moveleira, que já era forte na época, e apenas alguns estabelecimentos fabris. Praticamente nada se comparado aos dois bairros que na época eram os “primos ricos”.



Com as grandes indústrias, forma-se uma classe operária poderosa na região (numericamente poderosa, não financeiramente) que padece com os problemas de infra-estrutura, mal administrados pelo governo municipal. A Falta de saneamento, de calçamento, de redes para distribuição de água, além de outros itens, abre espaço para a especulação imobiliária também no campo residencial, o que dá início a formação de vários loteamentos pelo vasto território (806Km2) do velho município.



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Neste ano, os irmãos Hippolyto Gustavo Pujol e Ernesto Pujol, que já eram proprietários de terras na região, formam uma empresa com sede na Praça da Sé, na Capital Paulista: A EISB – Empreza (grafia da época) Imobiliária de São Bernardo, que conforme a tendência da época, inicia a formação de loteamentos baseados no conceito de “cidade jardim”. O Primeiro empreendimento começa por uma área de 6 milhões de metros quadrados, entre a Estação de São Bernardo (Santo André) e São Caetano. Nesta área, são formados os loteamentos dos atuais bairros Industrial, Operário, Jardim, Campestre, Santa Maria, Saúde, e Utinga. Todos com destinos bem específicos.



Jardim, Campestre e Utinga, eram destinados a moradias para a classe mais alta da população. Operário, Santa Maria e Saúde – para a moradia mais popular, formada pela própria classe operária. E Industrial, que margeava a ferrovia (Avenida Industrial) para empreendimentos industriais. Todos estes bairros alcançaram desenvolvimento formidável, e estão entre os melhores bairros de Santo André e São Caetano até hoje.



Mas a Vila de São Bernardo também recebeu o seu loteamento em 1925. Em uma área de 3 Milhões de metros quadrados, nasce o Nova Petrópolis, que assim como o Bairro Jardim, também era destinada a uma classe mais alta. O Nova Petrópolis ocupou uma bela colina que se localizava “atrás” do atual Centro de São Bernardo do Campo. Ruas largas e calçadas, redes de esgotos, redes de água, tudo pronto no loteamento, que também era inovador em termos comerciais, pois seus lotes eram vendidos diretamente aos interessados.



PhotobucketAlém disso, a EISB também oferecia o seu próprio sistema de transportes, entre os loteamentos que constituíra, ligando estes ás estações ferroviárias de São Caetano e São Bernardo. Era uma pequena ferrovia, um sistema de linhas de bondes, operados por bondes a gasolina da marca Renault, e que contava também com uma pequena locomotiva a vapor, que só era utilizada na Vila de São Bernardo.



Existia uma linha que ligava a Estação São Bernardo e a Estação São Caetano, passando pelos bairros constituídos pela EISB, passando pela atual Avenida D.Pedro II em Santo André, e dando uma volta por dentro dos bairros, atingindo a Estação São Caetano.



Já na atual São Bernardo do Campo, a linha férrea fazia o percurso aproximado da atual Avenida Pereira Barreto. O Traçado aproveitava os vales do Rio dos Meninos e do Córrego Taioca antes de percorrer a grande elevação da avenida após a atual divisa com Santo André, alcançando a estação ferroviária. Em São Bernardo ela entrava dentro do Nova Petrópolis, passando pela atual Avenida Wallace Simonsen, fazendo uma volta pelo bairro, e retornando a Rua Marechal Deodoro pela Avenida Imperatriz Leopoldina. Ela percorria todo o trecho movimentado da Rua Marechal Deodoro, passava em frente a Praça da Matriz, e tinha a sua estação final nas proximidades da atual Praça Lauro Gomes.



PhotobucketA Linha também contava com uma pequeno ramal que atendia a Fábrica de Móveis Pelosini. E era para este serviço que a EISB usava sua pequena locomotiva a vapor, uma legítima “Maria-fumaça” em miniatura, que por vezes rebocava o bonde com destino a Santo André. Em 1925, a linha significava uma importante integração com o Distrito de Santo André, e diminuiu consideravelmente a dificuldade que os São-Bernardenses enfrentavam para atingir a atual estação Santo André.



Em 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque, e com o declínio da economia cafeeira, a EISB fecha as portas e encerra as suas atividades. O Transporte é paralisado, e posteriormente os trilhos são arrancados da Rua Marechal Deodoro e de toda a cidade. Para substituir o velho bonde, começam a surgir empresas de ônibus que fazem a ligação entre S.Bernardo e Santo André, pioneiras das atuais empresas que ainda fazem o mesmo trajeto, agora em ônibus modernos, de última geração.




PhotobucketPraticamente 80 anos depois, se cogita uma espécie de bonde moderno (o VLT) para ligar São Bernardo a Estação de São Caetano, e revive-se o velho bondinho. Sinal dos tempos! Será que sai ou fica só na promessa?

Aguardaremos.



Bibliografia e imagens: SPR – Memórias de Uma Inglesa – Moysés Lavander Junior e Paulo Augusto Mendes.

6 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pela matéria histórica! Seria bom que os governantes soubessem disso e tentassem planejar a cidade melhor...

Allen Morrison disse...

Excelente. Maravilhoso, Sou historiador dos transportes e estou muito agradecido pela sua pesquisa. Obrigado!

Rocio disse...

A verdade é que sempre que um trem passa por uma cidade maior, porque torna mais fácil para chegar lá, então sua população é mais conhecido, então eu acho que eu tenho a sorte de viver em um lugar onde isso acontece e bonito viver aqui em Vila Leopoldina.

Blogdojuaresjardim disse...

Gratíssimo pelos excelentes esclarecimentos, de incalculável valor histórico-cultural.

Unknown disse...

Sou morador de São Bernardo do Campo
Exatamente no Bairro de nova Petrópolis matéria de muita qualidade
Parabéns pelo relato de história.

Edson Milton Cabezaolias disse...

Boa noite
Sou morador de São Bernardo do Campo há sete décadas e quando bem jovem eu vi os trilhos deste trem ou bonde na rua Marechal Deodoro, entre a praça Lauro Gomes e a praça da Matriz, mas eu me recordo que a rua Mal Deodoro foi asfaltada por cima dos trilhos, pelo menos neste trecho eles não foram arrancados, como está no texto.